Estima-se que este parasita é responsável por prejuízo de US$ 3,2 bilhões por ano somente no Brasil. No mundo, passa de US$ 17 bilhões.
A presença de carrapatos nos rebanhos bovinos é o que mais preocupa o pecuarista brasileiro. Informações científicas norteiam esse assunto, que será abordado nesta reportagem. Essas informações apontam que o clima úmido e quente é ideal para o aumento da população de carrapatos na pastagem e nos animais.
O Carrapato Bovino
O Rhipicephalus (Boophilus) microplus, popular conhecido como “carrapato-do-boi”, foi introduzido no Brasil provavelmente por meio de animais adquiridos do Chile, em princípios do século XVIII. Seu ingresso no pais foi via Estado do Rio Grande do Sul.
Muitos estudos sobre esses parasitas foram e estão sendo realizados em diversos países. No Brasil, o pesquisador Dr. Renato Andreotti e equipe da EMBRAPA/Gado de Corte mantém como referência o museu do carrapato e preconizam orientações para o controle de várias espécies, inclusive do carrapato dos bovinos.
De acordo com a professora Carolina da Silva Barbosa, Doutora em Ciência Animal, do curso de Zootecnia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), na literatura consta que o carrapato-do-boi tem uma fase de vida livre quando a larva está no ambiente e uma fase parasitária quando está sobre o animal. Nesta fase faz várias mudas e é neste período que transmitem os agentes da Tristeza Paritária Bovina (Babesia bovis, Babesia bigemina e Anaplasma marginale hemoparasitas) causadores de anemias. Ao término de 21 dias as fêmeas ingurgitadas (cheias de sangue) caem no solo. Após aproximadamente 20 dias põem em torno de 3.000 ovos, após o qual morrem. “No ciclo biológico do carrapato, a população das fases de vida livre ocorre 95% nas pastagens e 5% no animal”, observa Carolina. Além de se alimentar de sangue do animal, o carrapato lesiona o couro predispondo os animais a infecções, causando estresse e provocando a redução da produção dos animais.
A Professora Carolina Barbosa, acrescenta que, segundo pesquisas, para avaliar a infestação e realizar o controle do parasita, é necessário contar o número médio de, pelo menos, 20 carrapatos em todo o corpo, para animais cruzados. “Em animais zebuínos, deve haver pelo menos 10 carrapatos para proceder ao controle. No último caso, se multiplicarmos 10 fêmeas pelo volume aproximado de 3.000 ovos por fêmea, teremos 30.000 ao final da postura”, orienta a pesquisadora.
Planejamento e controle
Como parte do planejamento para o controle dos carrapatos é importante considerar o funcionamento correto dos equipamentos de aplicação da calda carrapaticida. Também deve se realizar a seleção de princípios ativos por meio de exame biocarrapaticidograma e assessoramento de um médico veterinário para verificar a ocorrência de resistência dos carrapatos frente a alguns produtos.
A professora orienta ainda aos pecuaristas que o controle estratégico dos carrapatos reduz a população quando realizados no final da estação seca e início da chuvosa, pois é nesse período quando surgem as primeiras gerações do carrapato. Ela pontua que o controle tático compreende o tratamento dos animais visualmente infestados após chuvas, que favorecem o aumento repentino da população de carrapatos. Outro momento importante que merece atenção é o controle de carrapatos de animais que se integrarão ao rebanho local. Devem se observar os animais mais susceptíveis à infestação conhecidos como “sangue doce” que devem ser detectados e monitorados com mais frequência.
Efeitos diretos
A perda crônica dos glóbulos vermelhos parasitados pelos agentes da Tristeza Parasitária Bovina, afeta de forma expressiva as funções fisiológicas do animal, por exemplo, a fertilidade, produção láctea, mastites crônicas, dermatites, dificuldades de manter o peso e recuperação no pós parto. Quanto aos animais jovens, a situação é ainda mais crítica devido à espoliação sanguínea provocada pelos carrapatos, somado à Tristeza Parasitária Bovina (TPB). Esses problemas ocasionam queda da imunidade, resultando em diarréias, pneumonia, emagrecimento crônico e até óbitos, alerta Carolina Barbosa. Ela ressalta ainda que a reação imunológica contra os agentes da TPB, consome parte da energia que deveria estar sendo utilizada nas funções fisiológicas básicas, principalmente imunológicas, do organismo animal adulto e jovem.
A professora Carolina orienta aos produtores rurais que para implementar o controle, ou seja, para elevar a condição de defesa dos animais leiteiros, atenção especial deve ser dada à nutrição adequada e adaptada às diferentes fases de produção. Vale ressaltar a importância das fontes hídricas porque a água é o principal alimento que contribui diretamente para a produção e manutenção do sistema fisiológico. Isto vem de encontro com a capacidade do organismo animal de reagir efetivamente contra a população de carrapatos e aos agentes por eles transmitidos.
Carolina encerra alertando os pecuaristas sobre os cuidados com o rebanho de acordo com os conceitos preconizados pela Organização Internacional de Epizootias (OIE). A pesquisa ressalta que o relatório de 2020 orienta para manejos que garantam o bem-estar, a fim de reduzir o uso de medicamentos nos animais de produção para atender a biossegurança dos alimentos para os humanos.
Por: Márcio Moreira – AGRONEWS