A tributação estadual e nacional e a concentração de frigoríficos em Mato Grosso são os problemas que mais “atrapalham” e “travam” a pecuária
Mais que pasto degradado, estradas intransitáveis, pontes de madeira em péssimas condições e a dificuldade em conseguir liberação de linhas crédito nos bancos, a tributação estadual e nacional e a concentração de frigoríficos em Mato Grosso são os problemas que mais “atrapalham” e “travam” a pecuária e quem pontua isso são os próprios pecuaristas mato-grossenses. A reclamação dos produtores rurais é constante e visível, em especial quanto ao parque industrial, quando se passa pelas principais regiões produtoras de gado no estado.
A reclamação, realidade e a situação dos pecuaristas mato-grossenses puderam ser conferidas de perto pela reportagem do site Mato Grosso Agro durante o projeto “Acrimat em Ação”, desenvolvido pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e que em 2018 percorreu 32 municípios e mobilizou 4.723 pessoas de todas as regiões produtoras do Estado entre os meses de fevereiro e maio em cinco rotas. A ação que visa levar conhecimento aos produtores e trocar informações e ideias no que pode ser feito para melhorar a atividade ainda passará por Rondonópolis no dia 07 de junho, fechando assim os 33 municípios a serem percorridos em 2018.
Hoje, 78% do parque industrial da carne bovina está nas mãos de cinco empresa, sendo a JBS detentora de 44%, o que impede a geração de uma competitividade, principalmente em regiões como a do Araguaia, região esta percorrida na Rota 4 do Acrimat em Ação e que foi acompanhada pela reportagem do Mato Grosso Agro. No que tange a tributação Fethab, Funrural e preço de pauta (ICMS) são as cargas tributárias mais lembradas e que pesam no custo.
João Carlos Martins do Prado está entrando na atividade pecuária, atividade está aprendida com o pai e o avó. Proprietário de uma empresa de reforma de pneus em Barra do Garças, ele credita sua “volta” ao campo a algo que gosta de fazer e vê a “tributação” e a “concentração de frigoríficos” como “nosso grande problema”.
“Lógico que tem várias coisas que podemos melhorar da porteira para dentro. Mas, da porteira para fora não temos condições de formar ainda uma cadeia mais produtiva para nós vendermos os nossos produtos. Nós produzimos o nosso boi, a nossa carne dentro da fazenda, mas fora nós temos que nos sujeitar ao grande frigorífico e é ele quem detém do preço”, diz João Carlos.
Até 2017, os municípios nas proximidades de Barra do Garças tinham apenas um frigorífico atuando, o JBS, entretanto a Marfrig reativou a sua unidade em Nova Xavantina. “Mas, se tivesse uma concorrência mais acirrada de outras plantas talvez o nosso preço estaria um pouco melhor”, salienta o pecuarista de Barra do Garças.
Produtor rural em Água Boa, Laércio Fernandes Fassoni, comenta que “Realmente as dificuldades para o pecuarista são muitas. Nós enfrentamos desde forte tributação, como o Fethab, o Funrural e uma pauta elevada para o gado (ICMS), a dificuldades climáticas, com alguns períodos de seca, dificuldade de melhoria de pastagem, e a dificuldade de comercialização por causa da forte concentração de frigoríficos”.
Aumento de produção e rentabilidade
O Acrimat em Ação levou em 2018 para os produtores rurais mato-grossenses o tema “Do pasto ao prato: agregação de valor a pecuária de corte” e apresentou aos mesmos as evoluções registradas nos últimos anos pela atividade e seus resultados obtidos. O tema foi abordado em palestra pelo engenheiro agrônomo e diretor de marketing da Scot Consultoria, Marco Tulio Habib Silva, que ainda apresentou quais as ferramentas tecnológicas disponíveis para melhorar os índices produtivos em toadas às etapas da cadeia produtiva, como confinamento, semiconfinamento, boas práticas, Sistema de Integração com a agricultura e a floresta, melhoramento genético, entre outros.
De acordo com o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, o Acrimat em Ação já é um evento, um projeto da entidade, consolidado, que começou em 2011 com apenas 900 pessoas participando as palestras nos municípios percorridos e hoje conta com mais de 4 mil participantes.
“O evento vem crescente não só em quantidade de público, mas em qualidade. A gente tem observado que o público participante está cada vez mais interativo, porque ele percebeu que o objetivo do Acrimat em Ação não é só levar informação, mas sim ajuda-lo nas dificuldades, nas demandas dele que podem ser solucionadas ou que podemos pelo menos ajuda-los a tentar solucionar. Essas demandas variam de região para região, porém há as demandas que são comuns para todos, como situação das estradas, concentração dos frigoríficos, por exemplo”.
Ainda conforme o diretor técnico da Acrimat, Francisco Manzi, o que se tem preconizado no Acrimat em Ação é que antes da aplicação de qualquer tecnologia na propriedade “é fundamental que o produtor tenha consciência da gestão”.
“É importantíssimo que o produtor tenha consciência de que ele precisa saber levantar os custos, inclusive para depois dimensionar quando e qual tecnologia ele deve aplicar”, salienta Manzi.
A questão da gestão e da “educação” dos produtores também é um ponto destacado pelo produtor de Barra do Garças, João Carlos Martins do Prado, para aumentar a produção de carne e a rentabilidade da propriedade. “O que para meu avô deu certo, o que para o meu pai deu certo, hoje não se faz mais. Eu acho que a gente tem que investir mais na nossa educação, mais em cursos, palestras, na medição do que estamos fazendo e aí sim nós podemos ter uma rentabilidade melhor no campo”.
Já o produtor de Água Boa, Laércio Fernandes Fassoni, destaca que melhorias em genética, um bom manejo e melhoria da alimentação podem auxiliar para um ganho mais cedo de arroba, um custo menor de produção por arroba e assim obter melhorias na rentabilidade da propriedade.
Por Acrimat