Área rural dedicada à vegetação nativa atinge 218 milhões de hectares no país
Os dados de novas inserções de imóveis ao Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SiCAR), ao longo de um ano, revelaram que a participação do setor rural brasileiro na preservação ambiental é maior do que o estimado na primeira análise. O SiCar mostra que cerca de 76,2% das áreas rurais de Mato Grosso estão cadastradas no sistema e que na média, os imóveis rurais do Estado destinam 51,41% de sua área para a preservação da vegetação nativa, o que revela ainda que estas áreas destinadas à preservação da vegetação nativa representam 39,18% da área do Estado, superando a média nacional.
Em todo o país, agricultores, pecuaristas, silvicultores e extrativistas destinavam à preservação da vegetação nativa mais de 218 milhões de hectares, o equivalente a um quarto do território nacional (25,6%).
Os números foram coletados pela Embrapa Territorial (SP), a partir das informações mantidas no SiCAR pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Em média, é como se cada produtor rural utilizasse apenas metade de suas terras. A outra metade é ocupada com áreas de preservação permanente (às margens de corpos d’água e topos de morros), reserva legal e vegetação excedente. O centro de pesquisa estimou o valor do patrimônio fundiário imobilizado em preservação ambiental e chegou à cifra de R$ 3,1 trilhões.
O pesquisador Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Territorial, chama à atenção para a distribuição desses espaços. “Eles estão extremamente conectados e recobrem todo o território nacional. As áreas preservadas pelos agricultores compõem um mosaico ambiental relevante e de grande dimensão com as chamadas áreas protegidas”, observa o cientista. Estas são formadas pelas terras indígenas e as unidades de conservação integral como parques nacionais, estações ecológicas e outras do gênero.
Mapeada detalhadamente pela Embrapa Territorial, a área total destinada à preservação, manutenção e proteção da vegetação nativa no Brasil ocupa 66,3% do território. Nesse número, estão os espaços preservados pelo segmento rural, as unidades de conservação integral, as terras indígenas, as terras devolutas e as ainda não cadastradas no SiCAR. Elas somam 631 milhões de hectares, área equivalente a 48 países da Europa somados.
MATO GROSSO – De acordo com os dados do Boletim do CAR de Janeiro de 2018, o Estado possui 180.504 imóveis cadastrados no SICAR (160% do total esperado pelo Censo de 2006) que ocupam uma área de 68.990.299 ha (142% do total esperado pelo Censo de 2006). Esta área representa cerca de 76,2% do estado de Mato Grosso.
Dentre esses imóveis, foi realizada a análise espacial detalhada dos 114.188 disponíveis no SICAR.
Esses imóveis possuem uma área total dedicada à preservação da vegetação nativa (APP + Reserva Legal + Vegetação Excedente + Hidrografia) de 35.470.505 ha. Ou seja, na média, os imóveis rurais de Mato Grosso destinam 51,41% de sua área para a preservação da vegetação nativa. Ou ainda, estas áreas destinadas à preservação da vegetação nativa representam 39,18% da área do Estado.
A título de comparação, as áreas de vegetação protegidas em Unidades de Conservação (sem APA) e Terras Indígenas ocupam 18,86% do Estado (35.470.505 ha de áreas destinadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais contra 17.033.656 ha de áreas protegidas em Unidades de Conservação sem APA e Terras Indígenas).
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é uma exigência do Código Florestal Brasileiro de 2012 para todas as propriedades e posses rurais no Brasil. No CAR, cada produtor delimitou, além do perímetro do imóvel, suas áreas de preservação permanente, reserva legal e de vegetação excedente. Essa base de dados geocodificados foi construída sobre imagens de satélite com cinco metros de resolução espacial. No caso do estado de São Paulo, a resolução é melhor, de um metro. “Os dados são muito precisos”, afirma Miranda.
Para calcular o território dedicado à vegetação nativa, a equipe da Embrapa Territorial baixou e integrou ao seu Sistema de Inteligência Territorial Estratégica 180 gigabytes de dados de cada um dos 5.570 municípios brasileiros. Os materiais e os métodos utilizados, bem como os resultados, estão disponíveis na página da Embrapa sobre o CAR.
Até 31 de janeiro deste ano, estavam cadastrados no SiCAR pouco mais de 4,8 milhões de imóveis e 436,8 milhões de hectares de terras. Essa área já supera em 30% a que foi identificada no Censo Agropecuário 2006, o último disponível. Por isso, Miranda avalia que a análise da dimensão territorial da participação do segmento rural na preservação da vegetação nativa no Brasil está mensurada, pois os números devem ter pouca variação.
No entanto, o pesquisador ressalta que também é preciso analisar as dimensões econômica, social e ambiental. A primeira começou a ser estudada, com a mensuração do valor patrimonial imobilizado. “Mas há ainda o custo de oportunidade e as despesas com manutenção a serem calculados”, lembra. O centro de pesquisa está atuando no levantamento desses dois itens. Trabalhará ainda nas avaliações de impacto sobre empregos, impostos, estoques de carbono, indicadores de biodiversidade e serviços ambientais.
Fonte: Acrimat