Por ano, MT gasta R$ 1,440 bilhão com manutenção de 8 mil km de asfalto enquanto projetos ferroviários traçados para o Estado somam investimentos de R$ 25,3 bilhões
Mato Grosso gasta em torno de R$ 1,440 bilhão por ano com a manutenção de 8 mil km de asfalto. A rodovia como principal meio de transporte mantém o custo do frete elevado e encarece os preços dos produtos ao consumidor. Nesse sistema logístico, fundamentado no uso de caminhões, poucos segmentos são beneficiados, a exemplo dos setores de combustíveis, fabricantes de veículos, de pneus e seguros de cargas. É o que afirma o professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em Engenharia de Transportes, Luiz Miguel de Miranda, acrescentando que a manutenção de 1 km de asfalto custa R$ 180 mil ao ano.
Para modificar essa configuração do escoamento da produção mato-grossense e transporte de produtos foram traçados projetos ferroviários que somam investimentos de R$ 25,360 bilhões. Debate sobre o assunto marcou o início da semana, com a realização do 1o Seminário de Transporte Multimodal de Mato Grosso Ferrovias, o Brasil passa por aqui, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) nesta segunda-feira (6). Além de abordar os projetos ferroviários e atualizar o andamento deles, foi abordada a integração da rede logística de Mato Grosso, notadamente o transporte de cargas de baixo valor agregado, ou seja, commodities agrícolas.
Devido ao posicionamento geográfico, a maneira mais barata de retirar a produção local em direção aos portos do país e deles até os mercados mundiais -é por meio de ferrovias, avalia o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. “Aumentar a malha ferroviária dá competitividade a um setor importante, competitivo, mas que gasta muito com transporte de caminhões. Se diminuir esse gasto fica mais recurso nas mãos dos produtores que melhoram Mato Grosso e moram aqui, portanto, melhora a economia estadual”, pondera Maggi.
Segundo ele, pela 1a vez se viabiliza investimentos em uma ferrovia que “vem para dentro da roça”, ao se referir à Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) que atende o setor produtivo e a produção que precisa ser escoada. O “braço” da Fico que alcança Mato Grosso até o município de Água Boa sai de Campinorte (GO), onde integra a Ferrovia Norte Sul.
Além de viabilizar a retirada da produção estadual de grãos, as ferrovias estimularão a expansão do parque industrial local, observa o presidente do Sistema Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Jandir Milan. Conforme ele, os investimentos em novas indústrias será quase imediato após os trilhos serem concretizados. “Não existe indústria forte se não tiver logística forte. Com as ferrovias, Mato Grosso vai atrair investimentos, gerar mais empregos, melhorar a renda e a arrecadação de impostos”.
Para o professor da UFMT é impossível sustentar o desenvolvimento econômico de Mato Grosso e do Brasil com 66% de toda movimentação de cargas sobre caminhões. “No caso de Mato Grosso é pior ainda, porque toda produção estadual, que é de ponta, é carga de baixo valor agregado. Isso é dinheiro jogado fora. Meia dúzia de pessoas ganham, quando a maior parte da sociedade paga por isso”.
Projetos ferroviários
Quatro projetos ferroviários estão no radar de investimentos públicos e privados para facilitar o escoamento da produção estadual. O mais ambicioso está orçado em R$ 12 bilhões, com recursos exclusivos da iniciativa privada. Os trilhos conectariam a principal região produtora de grãos de Mato Grosso, o médio-norte, na região de Sinop, ao porto de Miritituba (PA). Outro projeto que poderá sair do papel com recursos privados ligaria a região produtora do Parecis, especificamente Sapezal, a Porto Velho (RO). Estimado em R$ 8 bilhões, e é considerado “bastante viável” pelo diretor-executivo do Movimento PróLogística, Edeon Vaz Ferreira.
Em processo adiantado para começar as obras está o trecho da Fico entre Campinorte (GO) e Água Boa. Para viabilizar este traçado ferroviário de 383 km estão programados R$ 4 bilhões a serem repassados pelo governo federal como contrapartida pela renovação da concessão de linhas férreas da Vale no Pará e em Espírito Santo. A decisão foi polemizada ao ser questionada judicialmente pelos governos do Pará e Espírito Santo e será debatida durante audiência pública no Senado hoje (7). Para especialistas no tema, dificilmente o projeto de trazer a extensão da Fico até Mato Grosso será modificado, uma vez que já recebeu apoio do presidente da República, Michel Temer (MDB) e do ministro dos Transportes, Valter Casimiro (PR).
A Ferrovia mais antiga de Mato Grosso, a Vicente Vuolo ou Ferronorte, transporta por ano 17 milhões de toneladas de grãos, colhidos de solo mato-grossense, segundo o Fórum PróFerrovia. Para ampliar a Ferronorte de Rondonópolis até a capital, num total de 260 km, são estimados investimentos de R$ 1,360 bilhão, segundo o presidente do Fórum, Francisco Vuolo. A intenção é que os trilhos alcancem o médio-norte mato-grossense, que concentra a maior parte da produção estadual de grãos, chegando até a divisa com o Pará. Este traçado ferroviário acompanharia o percurso feito por caminhões ao longo da BR 163/364. Atualmente a Ferronorte é administrada pela Rumo Logística, que detém a concessão da malha ferroviária paulista e aguarda a renovação do contrato de concessão com o governo de São Paulo por mais 30 anos. Se o pleito for atendido, a Rumo pretende direcionar investimentos para ampliar a ferrovia em Mato Grosso. Com isso, será possível transportar até 35 milhões (t).
Insegurança
A melhoria da infraestrutura de transportes depende da adesão da iniciativa privada. Contudo, fatores como insegurança jurídica e ambiental e a situação econômica do país desestimulam investimentos privados, especialmente estrangeiros, na avaliação do diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira. Para ele, ainda é necessário que os parlamentares estejam mais engajados em buscar soluções para o tema.
Fonte: Acrimat