Produtividade pecuária melhorou 143% em 25 anos e ainda tem muito a avançar, escreve o consultor Maurício Palma Nogueira
Os impactos positivos proporcionados pelo aumento do nível tecnológico da pecuária são incontestáveis. Embora o setor ainda não tenha sido capaz de convencer o público leigo, não há como negá-los. Ocorreram ganhos nas áreas de genética, manejo e tratos culturais de pastagens, integração de sistemas produtivos, nutrição, sanidade, reprodução, mecanização e infraestrutura, gestão, etc.
Entre 1990 e 2015, a soma de todas as frentes de melhoria tecnológica possibilitou um aumento de 143% nos níveis de produtividade da pecuária brasileira. A pecuária passou de 1,65@ para as atuais 4@ produzidas por hectare/ano. Apesar de a produtividade ainda ser muito baixa, esse avanço possibilitou que o Brasil economizasse de 230 a 250 milhões de hectares que precisariam ser desmatados, caso a quantidade de carne ofertada em 2015 fosse produzida com a tecnologia de 1990. Ou, pensando inversamente, se a produção atual fosse a mesma de 1990, os preços da carne bovina seriam proibitivos para o consumidor.
Em 2016, bois e vacas saíram das fazendas brasileiras pela metade do preço que foi registrado no início da década de 1970, em valores reais corrigidos pelo IGP-DI. Os números impressionantes da pecuária são proporcionais à área que ela ocupa. São cerca de 165 milhões de hectares, segundo as estimativas embasadas com maior riqueza de dados.
Qualquer aumento mínimo nos níveis de produtividade irá causar uma redução enorme na área de pastagens; o que deixa a pecuária numa situação relativamente confortável, do ponto de vista ambiental. No entanto, esse potencial todo pode cobrar um preço elevado, se analisado pela ótica social. Estudos relacionados à sustentabilidade sugerem que a pecuária terá que liberar área entre 12 a 20 milhões de hectares nos próximos dez anos.
Para se chegar a esses números, a produtividade precisará aumentar de 8% a 14% no período. Por outro lado, a demanda tecnológica para recuperar a renda supera 11 vezes a demanda para atingir as metas ambientais. Tomando como parâmetro os dados de mercado de 2016, como custos dos insumos, salários e preços de venda dos animais, por exemplo, a produtividade média nacional teria que aumentar 160% (para 10,4@/ha) para recuperar a rentabilidade obtida nos anos 1990. O produtor sabe que produtividade maior proporciona melhor rentabilidade; e por isso irá buscá- la mantendo os ganhos nas diversas áreas de tecnologia.
Nesse contexto, é fundamental considerar que a produtividade não aumenta proporcionalmente, e de forma cadenciada, em todas as fazendas. As da ponta, já mais tecnificadas e evoluindo em maior velocidade, vão se distanciando cada vez mais, acelerando inexorável, e inadvertidamente, a saída daqueles que permanecerem na inércia, ou que forem mais lentos.
Nesse processo, a produtividade média nacional vai se elevando. Os dados do Rally da Pecuária confirmam. Em seis edições, a produtividade média do público presente nos eventos aumentou 7,2% ao ano, o que equivale a um acréscimo de quase 100% em dez anos.
No mesmo período, a produtividade média da pecuária nacional aumentou 0,7% ao ano, equivalente a 7,3% em dez anos. É fato que o público acessado pelo Rally da Pecuária é composto por produtores bem acima da média brasileira. Ainda assim, dentre o público, apenas 20% dos produtores registraram produtividades acima de 18@/ha/ano. Esses 20% foram responsáveis por metade de todas as arrobas vendidas pelo público todo; um inequívoco processo de concentração das vendas nas mãos dos mais produtivos.
Fonte: Anuário DBO 2017