A respeito da operação “Carne Fraca” da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta sexta-feira (17) com o objetivo de combater o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura em um esquema de liberação irregular de licenças para frigoríficos.
Sou de uma família tradicional de produtores rurais e há dez sou professor da área de alimentos na rede federal. Conheço muito bem a cadeia produtiva de carnes, tanto na ótica do produtor rural como na industria. Nas minhas aulas sempre enfatizo que a principal característica exigida na qualidade da carne e seus derivados é a sanitária. E o Brasil é reconhecido internacionalmente pelo rigor sanitário na produção de carnes. Tanto é que muitos promotores de crescimentos, antibióticos e até hormônios que são utilizados em outros países, no Brasil é expressamente proibido e combatidos veementemente.
Quando do abate dos animais do experimento do meu doutorado, numa das unidades da BRF, chamou-me a atenção o tamanho do rigor da fiscalização. Tenho inúmeros colegas de faculdade e doutorado que trabalham neste frigoríficos, centenas de alunos que estagiam nestas unidades e dezenas de orientados que trabalham nestas industrias. Nunca vi ou ouvi ninguém relatar tais práticas.
Vamos assistir ao pronunciamento do Ministro Blairo Maggi e conferir alguns equívocos divulgados pela imprensa..
[arve url=”https://agronews.tv.br/wp-content/uploads/2017/03/MINSTRO-CARNE-FRACA.mp4″ title=”Coletiva com Ministro Blairo Maggi”/]
Depois de ler bastante e ouvir entrevistas do Professor Dr. Pedro Felício e a coletiva a imprensa do Ministro Blario Maggi, resolvi comentar alguns fatos, vamos a eles:
Sobre a cabeça de porco
De acordo com o regulamento da inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal, a cabeça de porco é perfeitamente comestível, podendo ser usada como matéria-prima de vários produtos.
Sobre o papelão supostamente encontrado
Sobre a utilização do papelão na elaboração de produtos, creio que em frigoríficos certificados é quase impossível. Neste caso, conversando com vários profissionais que trabalham nestes frigoríficos e ouvindo o diálogo gravado pela PF e divulgado nas mídias, as pessoas discutiam sobre um certo tipo de embalagem plástica (big bag) de grandes quantidades de carne, que precisa ser reforçada externamente com papelão.
Disseram que teriam que entrar com papelão na CMS, ou seja, na seção de processamento da CMS. É comum nomearem a seção pelo nome da carne ou produto. CMS é uma carne obtida a partir do que resta dos frangos após a remoção dos filés. A seção é considerada área limpa. E em áreas limpas não é permitida a entrada de embalagem secundária como o papelão. Portanto, deveriam usar aço inox ou plástico rígido. Tão simples, mas foi a causa de muita desinformação.
Sobre o ácido ascórbico
Conversando com um amigo, ele me questionou se o ácido utilizado era cancerígeno, expliquei-lhe que era apenas “Vitamina C”, na qual se trata de um antioxidante comumente utilizado para aumentar o tempo de pratilheira dos produtos.
Conclusão
Diante do exposto, observa-se que ouve precipitação na divulgação da operação. Precisamos ter muita prudencia nestas investigações, pois hoje temos um setor em pânico, onde a baixa nos preços pago ao produtor já passa de 10%.
E minha pergunta é simples: agora quem vai pagar a conta?
DORIVAL PEREIRA BORGES DA COSTA é Zootecnista pela Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), doutor em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e professor da Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).
Currículo completo clique aqui.