A pecuária brasileira, setor responsável por 7% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e que, “dentro da porteira”, emprega mais de 3,16 milhões de pessoas, vem passando por um momento bastante delicado
Em 17 de março, dia em que a operação Carne Fraca foi divulgada pela Polícia Federal, o ritmo de negócios envolvendo boi gordo, suíno vivo e aves ficou significativamente lento em todo o Brasil.
Em meio a muitas especulações e também aos embargos por parte de importantes países às carnes brasileiras, pecuaristas e especialmente representantes de frigoríficos saíram do mercado, resultando em quedas nos preços da arroba bovina, do suíno vivo e também do frango. Muitas unidades de abate, principalmente as de boi gordo, paralisaram as atividades por alguns dias.
Agora, passadas algumas semanas, a crise envolvendo o setor de proteína animal vai sendo aparentemente dissipada. A imprensa e, principalmente, consumidores passaram a avaliar que não se pode colocar toda a carne brasileira em uma mesma “vala comum”.
Além das consequências relacionadas mais diretamente à produção, o bloqueio das aquisições por parte de grandes compradores do produto nacional foi um dos impactos mais alarmantes — vale lembrar que o Brasil é o maior exportador de carnes bovina e de frango e o quarto maior de suínos. Dentre os principais importadores que bloquearam temporariamente as importações da carne brasileira estiveram a China e Hong Kong, que, juntos, representaram 32% das vendas totais do país de carne bovina no ano passado, 35% da carne suína e 17% da de frango.
Apesar do choque inicial, já se pensa que os impactos não serão tão graves quanto se esperava. Ainda que importantes compradores, como Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes, mantenham o bloqueio parcial das compras, China e Hong Kong já retomaram totalmente as importações e as restrições impostas pela União Europeia se limitam apenas aos frigoríficos investigados na operação.
O fato é que o Brasil também foi bastante favorecido pelo contexto internacional.
No caso da carne bovina, a Austrália passa por uma forte redução no rebanho bovino nacional e, por isso, não conseguiria, sozinha, suprir a crescente demanda chinesa pela carne. Na avicultura, o surto de influenza aviária que se espalha por importantes países produtores limita a oferta mundial desta proteína. Quanto à suinocultura, a China, que é a maior produtora e também consumidora desta carne, registrou problemas sanitários e, com isso, o Brasil se tornou um grande fornecedor do produto àquele país.
Por Sergio De Zen, professor Dr. da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), e pesquisador responsável pela área de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e Camila Brito Ortelan, mestre pela USP e pesquisadora do Cepea.
Fonte: Zero Hora