São quase duas da tarde de um domingo de maio de 2016. Um trabalhador rural está conduzindo uma máquina agrícola, no trabalho de transbordo, quando a colheita da lavoura é deslocada para descarregamento. Ao passar próximo à rede elétrica, o veículo colide com um poste de alta tensão, causando a quebra da estrutura e a queda dos cabos de energia sobre ele. O trabalhador rural, que estava dentro da cabine, tenta descer para avaliar o ocorrido. Ele acaba perdendo a vida, ao receber uma descarga elétrica.
O caso ocorrido com um funcionário de uma usina de cana-de-açúcar, na cidade de Batatais (região de Ribeirão Preto – SP), ilustra bem o que ocorre na zona rural em todo o País.
Em outra situação, em abril de 2016, um operador de colheitadeira colidiu contra um poste, provocando a queda dos cabos sobre a máquina agrícola, ferindo o trabalhador. O desastre aconteceu em uma fazenda, na cidade de Nonoai, no estado do Rio Grande do Sul (região de Frederico Westphalen).
Embora, aparentemente, os números de acidades estejam em queda – em 2015, a CPFL Energia registrou quatro acidentes, com dois óbitos, sendo que em 2016 foram três acidentes, com uma morte –, a verdade é que existem acidentes que nem sequer são comunicados ou possuem registro. Nesses casos, a distribuidora só tem conhecimento quando suas equipes encontram a rede avariada ou quando é comunicada sobre falta de energia em alguma região ou cidade, que é alimentada por esse sistema.
Uma das maiores causas de acidentes, envolvendo maquinário agrícola e rede elétrica, é a falta de planejamento e atenção, quando no desempenho de atividades no campo. As dimensões das máquinas utilizadas na colheita aumentam o risco de um contato acidental com os fios de energia, assim como o fato de as culturas ultrapassarem e, muitas vezes ocuparem, a área determinada como faixa de servidão e segurança, estando sob as redes de transmissão ou de distribuição de alta voltagem. Tudo isso contribui para que esses imprevistos ocorram com maior frequência.
As faixas de servidão não existem à toa. Atuam como proteção e segurança entre as lavouras e a rede elétrica. Essas faixas resguardam tanto o sistema elétrico como os trabalhadores rurais, que muitas vezes utilizam máquinas de grande porte próximas dos equipamentos do sistema elétrico. Não ocorre somente o fato de a máquina tocar os cabos da rede. Em alguns casos, os veículos acabam batendo contra os estais (cabos de aço que prendem os postes ao chão), derrubando postes e fios energizados.
Conforme determina a Norma Técnica NBR 5422 – Projeto de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica, da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, as faixas de servidão e segurança possuem a largura mínima de 30 metros, para as linhas de 69, 88 e 138 kV e a largura mínima de 20 metros para as linhas de 34,5 kV. Isto significa que nestas áreas é proibido plantio de espécies que ultrapassem a altura ou que requeiram a utilização de maquinário agrícola para seu manejo.
Apesar de o período mais crítico de ocorrência de acidentes seja o da colheita, quando os agricultores devem redobrar os cuidados com as redes de energia, é importante planejar sempre as atividades. É importante visitar os locais onde os trabalhos serão realizados, observando os locais onde existe rede e dimensionando as máquinas para a realização do serviço a ser realizado.
Durante queimadas e outras atividades, como colheita de frutos, o perigo também é grande. Com a modernização do sistema de colheita, visando o aumento da produtividade, as máquinas estão ficando maiores, e acabam tocando a rede ou os equipamentos que a sustentam. Por isso é importante planejar todo o trabalho antes e fazer o reconhecimento do local, determinando as distâncias seguras da rede elétrica. Um dos fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes é o caso do agricultor, por desconhecimento, se arriscar ao tentar passar com máquinas de grande porte sob a rede.