É muito comum os pais sonharem com os filhos dando continuidade aos negócios da família
A sucessão familiar é um dos temas mais discutidos em todo o mundo e, em todas as áreas. No setor agropecuário, um dos desafios nas propriedades rurais é a falta de interesse dos jovens em permanecer na atividade, ocasionando assim, o chamado êxodo rural.
O produtor de Juara, Etso Rosolin que já visitou vários países conta que observou problemas de sucessão familiar na Austrália, Nova Zelândia e nos Estados Unidos. Mas para a família dele, o processo de sucessão foi natural. “Cada um dos meus filhos cuida de uma de nossas propriedades”, conta o pai orgulhoso com a integração de todos.
Rosolin diz que vê a sucessão familiar como um problema em outras famílias e até mesmo, como um motivo de discórdia. “Mas com meus filhos tudo foi muito natural. O amor que une nossa família faz com que todos as diferenças sejam superadas. Meus filhos são muito trabalhadores e gostam muito do trabalho no campo. Isso me proporciona a oportunidade de viajar, conhecer outras realidades e participar mais assiduamente das discussões do nosso setor”.
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), as empresas familiares constituem cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e empregam 75% da força de trabalho. Estes números mostram que as empresas familiares são um dos pilares de economia. Assim sendo, a continuidade é de fundamental importância para o desenvolvimento do Brasil. E a realidade de outros países não é muito diferente quando o assunto é sucessão familiar.
No meio rural, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), até 2030 aproximadamente 40% dos produtores rurais sairão da atividade. Nos municípios onde a agricultura familiar é bem desenvolvida, há também maior desenvolvimento econômico devido à capacidade de geração de renda de forma contínua.
Para que a sucessão familiar tenha sucesso no setor agropecuário é preciso manter a população no campo. Esta é a opinião do produtor rural, na região de Colíder, Euzébio de Moraes. Ele tem dois filhos e diz que nenhum deles quer continuar os negócios da família. “Eu penso que ao sair para estudar, perderam o amor pela terra. É claro que o estudo é necessário, mas é importante manter o vínculo com o campo”.
No processo sucessório deve-se considerar os valores da família gestora, a realidade em que ela se encontra e os valores presentes. Mas não é só isso, também é importante observar a expectativa de vida dos membros principais atuantes na gestão. A sucessão na gestão familiar é crucial no êxito da continuidade de uma organização, uma vez que o processo intervém diretamente nos negócios e pode ser capaz de definir a sua estabilidade, crescimento ou ruína da empresa.
Além disso, também é preciso fazer o planejamento do processo da sucessão. Com a entrada de uma nova geração na empresa, a inovação tende a ser próspera e o receio de correr riscos tende a diminuir. Para tanto, a busca por um perfil empreendedor alinhado aos valores da família pode ser capaz de suscitar a inovação organizacional dentro de empresas familiares.
Os herdeiros precisam ser preparados para o processo sucessório, para que suas expectativas sejam atendidas, visto que a contínua motivação é fator chave para que a segunda geração tome frente dos negócios. Portanto, conclui-se que a geração que seguirá na gestão da empresa familiar necessita ser capacitada, com base na educação empreendedora e estar motivada para integrar o processo de gestão.
Para o consultor em governança e sucessão familiar em empresas rurais, Cilotér Borges Iribarrem, é fundamental que ocorra a preparação para a segunda geração trabalhar em sociedade, pois, deixar para resolver a sucessão somente entre os irmãos normalmente não dá certo. “Em geral, os conflitos são inevitáveis. Mas não implantar o processo da transição no momento correto só aumenta os possíveis atritos, dificultando as relações pessoais e tornando a comunicação muito mais difícil”.
Iribarrem enfatiza que a palavra-chave nesse processo de sucessão familiar é antecedência. Afinal, quanto mais cedo for preparado o planejamento patrimonial e sucessório, procurando organizar os bens, envolvendo os familiares e potenciais herdeiros, desenvolvendo um planejamento de longo prazo, maiores são as chances de a transição dar certo.
Segundo o consultor, existem muitas variáveis que influenciam na possibilidade do êxito da estratégia tomada para que dê certo o processo de transição. Esta lista conta com assuntos como tamanho da estrutura familiar, cultura da família, objetivos e interesses profissionais dos familiares. Além disso, a competência profissional dos sucessores que querem trabalhar na empresa é outro assunto importante e que deve ser levado em consideração.
Em Mato Grosso o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-MT) oferece o Programa de Sucessão Familiar que tem como objetivo mostrar a importância do processo sucessório para o crescimento, desenvolvimento, longevidade e sucesso nas empresas familiares do agronegócio. O conteúdo do programa inclui assuntos como análises financeiras e contábeis utilizadas como instrumentos para a tomada de decisões das empresas familiares, aspectos legais, tributários e vários outros.
De acordo com o superintendente do SENAR-MT, Otávio Celidonio, além deste programa especial, a instituição também oferece palestras de sensibilização, em que se fala sobre a importância do processo sucessório para o crescimento e desenvolvimento da empresa familiar no meio rural.
Para participar do programa é preciso ter mais de 18 anos, ser alfabetizado com noções básicas de matemática e ainda ter dois membros da família na mesma turma: o sucessor e o sucedido. Os interessados tanto em solicitar as palestras de sensibilização, quanto o programa especial de Sucessão Familiar devem procurar o Sindicato Rural do seu município para verificar se há treinamentos e palestras sobre o tema previstas e se há vagas.
Fonte: Senar/MT