Mato Grosso recebeu, nesta quinta-feira (26), o status de “zona livre de peste suína clássica”. O anúncio foi feito durante a 84ª Sessão Geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Paris. A certificação foi entregue ao presidente do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), Guilherme Nolasco, e ao secretário adjunto de Agricultura da Sedec, Alexandre Possebon. Com o novo status, o mercado espera ampliar o consumo da carne suína produzida em Mato Grosso. O Estado ainda deverá receber novos investimentos em unidades de beneficiamento.
Quinto maior produtor de suínos do país, Mato Grosso possui uma cadeia suinícola que gera cerca de 14 mil empregos diretos e indiretos. Características do solo, clima e recursos hídricos favorecem a produção de suínos no Estado. As granjas comerciais empregam alta tecnologia, práticas sustentáveis e de bem-estar animal.
“O mercado mundial hoje não compra simplesmente carne, compra qualidade e sanidade. Se o fornecedor não garantir esses requisitos ao consumidor, o mercado não se abre. Esse certificado significa dizer diretamente que o setor suinícula de Mato Grosso está apto a abocanhar novos mercados mundiais”, comemora o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDEC), Seneri Paludo.
O diferencial de Mato Grosso, segundo Seneri, é que de todas as unidades da federação, seja com ou sem status, o estado é o que apresenta maior potencial de crescimento da produção suinícola em função da oferta de matéria-prima (soja e milho) e pela sanidade porque possui distâncias entre as granjas, o que significa menor risco de propagação de doenças entre a população de suínos.
Investimentos:
Em Mato Grosso, somente em 2016 estão sendo investidos R$ 136 milhões na suinocultura, via linhas de crédito do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO Rural). A partir desses investimentos privados foram gerados 86 empregos diretos e 294 indiretos contribuindo para o desenvolvimento econômico e social regionalizado no Estado, já que as unidades comerciais estão localizadas em diversos municípios.
Com capacidade para aumentar a produção nas unidades de beneficiamento, produtores estão investindo na ampliação de granjas para a engorda e terminação de suínos. “Algumas unidades frigoríficas já estão projetadas para esse crescimento. O certificado pode abrir um rol de países e potencializar a produção e o beneficiamento. Temos matéria-prima, estrutura e tecnologia para isso, e condições para ampliar o mercado consumidor”, explica o secretário adjunto de Agricultura da SEDEC, Alexandre Possebon.
Para Nolasco, o estado avança na defesa sanitária animal. “Mato Grosso dá um passo à frente. A certificação irá agregar valor ao mercado da carne suína, e é fruto de um trabalho realizado pelo Indea e a Associação dos Criadores de Suínos (Acrismat). Investimos em fiscalização, capacitação dos servidores, cadastramento e sorologia, e em vigilância veterinária ativa”, avalia.
O diretor executivo da Acrismat, Custódio Rodrigues de Castro Júnior, lembra que esse é um pleito desde 2009. “Poderemos acessar mercados para competir com aqueles países que já são considerados livres da peste suína, com os Estados Unidos, Canadá e quase toda a Europa. A partir do aumento da oferta por países e estados produtores considerados livres da doença, a certificação poderá passar a ser uma exigência, como ocorreu com aqueles que são livres de febre aftosa, para a compra de carne bovina”.
O evento:
Em Paris os representantes de Mato Grosso e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se reuniram com o Instituto de Pesquisa (Ifip), Inaporc – que reúne toda a cadeia produtiva suína, do produtor à indústria, e os segmentos de atacado e varejo – e o Ministério da Agricultura da França, com o objetivo de conhecer os procedimentos sanitários da França e da zona do Euro. Também estavam presentes a diretora técnica do Indea, Daniella Bueno e a responsável pelo Programa Estadual de Sanidade Suídea (PESS/Indea), Daniella Schettino.
Ações:
Com apoio do Mapa e da Acrismat, o Indea realizou dois importantes treinamentos para médicos veterinários. O primeiro para Monitoramento e Controle Populacional de Suínos Asselvajados e o segundo, Simulado de Gabinete em Emergência Sanitária Animal para Peste Suína Clássica (PSC).
Outra ação do Governo do Estado foi a abertura de novos postos de fiscalização em zonas de fronteira com áreas consideradas não-livres da peste suína clássica. Foi aberto um posto em Guarantã do Norte e outro em Vila Rica, em parceria com a Acrismat. Além de duas barreiras volantes, sendo uma em Colniza e a outra no Vale do Araguaia, com apoio do Fundo Emergencial de Saúde Animal (Fesa), que doou duas caminhonetes e equipamentos para fiscalização.
Em 2015, técnicos do Indea realizaram vigilância em 4.198 propriedades, 913.763 suínos foram inspecionados. Vigilância e monitoramento em granjas e frigoríficos, vigilância sorológica em suínos asselvajados [cruzamento do javali europeu com o porco doméstico] e vários treinamentos para servidores e colaboradores estão entre as ações realizadas.
Em 2016, o Indea continua com o acompanhamento do rebanho realizando vigilâncias, sorologia, cursos de capacitação para os servidores e cursos de educação sanitária voltada para a sanidade suídea na zona de fronteira com a Bolívia.
Pess:
O Programa Estadual de Sanidade Suídea (PESS) foi instituído em Mato Grosso em 2006 para o controle das criações em condições sanitárias adequadas, dentro dos padrões zootécnicos e dos procedimentos operacionais de qualidade, bem como a promoção do bem estar animal e atendimento às exigências dos consumidores nacionais e internacionais.
Tem como objetivo executar de forma contínua as ações, com atenção para as patologias peste suína clássica, doença de Aujeszky, brucelose, tuberculose, sarna e leptospirose. Além disso é realizado o monitoramento e a certificação das granjas e ainda o estabelecimento de medidas sanitárias para reconhecimento e/ou manutenção de Mato Grosso como área livre de enfermidades infecto-contagiosas e parasitárias.
OIE:
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reúne delegados representantes de 180 países, que definem as diretrizes e especialistas para debater sobre a legitimidade de medidas sanitárias adotadas pelos países membros. A OIE é referência mundial para sanidade animal e zoonoses.