A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Frigoríficos da Assembleia Legislativa definiu quando ocorrem reuniões no Nortão. Dia 14 de julho, há encontro com representantes Nova Monte Verde, Nova Canaã, Colíder e Alta Floresta. Antes, dia 8, as discussões acontecem no polo de Sinop, e estão definidos representantes das prefeituras de Sorriso, Matupá também. Dia 7, há encontro em Juara, com membros do Executivo da cidade, Brasnorte, Juína, Juruena
Ontem, em Cuiabá, a CPI ouviu o diretor-executivo do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca e o professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada de São Paulo (Cepea), Sérgio de Zen. O presidente da CPI, deputado Ondanir Bortolini – Nininho (PSD), afirmou que os depoimentos servirão de parâmetro para a comissão corrigir as distorções dos preços da arroba do gado vendido em Mato Grosso e ainda, os motivos do fechamento de plantas frigoríficas.
“O Estado manteve um preço de venda da carne histórico e diferenciado, de 8% a 10% inferior em relação a São Paulo, Goiás e Paraná, mas hoje esse percentual chega a 19%. Esse é um dos itens que a CPI busca corrigir” destacou o parlamentar.
Mato Grosso, nos últimos oito anos, de acordo com Nininho, teve a concentração do mercado da carne nas mãos dos grandes grupos da cadeia produtiva. Para ele, não há mais competitividade de mercado. “O setor está nas mãos de meia dúzia de empresários que ditam as regras. A intenção é reabrir muitas plantas frigoríficas que foram fechadas em Mato Grosso. Matéria-prima para reativá-las não falta”, destacou o deputado.
O parlamentar comemorou a reabertura de um frigorífico fechado nos últimos dias. “Um grupo de empresários vai reabrir a planta de Brasnorte. Este é o objetivo da CPI. Não temos a intenção de expulsar nenhum investidor de fora, mas corrigir as distorções. A comissão vai dar essa contribuição à sociedade e aos pecuaristas mato-grossenses”, garantiu Nininho.
“A CPI quer saber quantos bois foram em pé para serem abatidos em outros estados. Porque São Paulo transporta o gado para abater há mil quilômetros dali. Nossos empresários desse segmento não conseguem abater esses bois em Mato Grosso”, afirmou Nininho.
Nininho perguntou a Sérgio de Zen qual a importância do gado mato-grossense para o mercado nacional, e a resposta foi o fato de o estado ser um grande produtor, com um rebanho acima de 25 milhões de cabeças. Esse montante gera um excedente que é exportado para o resto do Brasil e do mundo, algo entre quatro a dez milhões de cabeças.
“Em Mato Grosso, os produtores são beneficiados com o solo, o clima, alimento, suplementação e a indústria para a transformação do produto. Tem um parque industrial moderno. A economia mato-grossense tem um peso satisfatório no país. Hoje, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul representam cerca de 50 milhões de cabeças de gado, o que equivale a 25% do abate nacional”, explicou Zen, que disse ainda que as exportações mato-grossenses chegam a 12%. Dos R$ 100 bilhões de superávit da economia brasileira, os dois estados contribuem com 12%, isso vem da carne. Esse valor representa R$ 8 bilhões para MT e MS.
A pecuária é o setor que mais emprega em todo o estado, segundo Zen, a mão de obra empregada está tanto dentro como fora das fazendas. “Mato Grosso tem um potencial de exportação muito grande e extremamente importante.”, explicou Zen.
Questionado sobre como eram feitas as coletas de preços de bois em cada região do estado, Zen afirmou que elas se baseavam em pelo menos cinco informações para serem consideradas válidas. “Menos que cinco não se calcula a média e o desvio padrão. Tudo que está fora do desvio padrão tem que estar fora do frigorífico, que quer dar um preço baixo e o produtor dar um preço alto. Com o isso, o frigorífico vai dizer que o produtor está fora do mercado. Isso já aconteceu com Cuiabá”, explicou ele.
Daniel Latorraca afirmou que, nos últimos anos, entre 2007 e 2012, em Mato Grosso, houve grandes investimentos que elevaram a capacidade de abate bovino de oito para 11 milhões de cabeça de gado (macho e fêmea) por ano. Já em 2013 foi registrado um número recorde, com cerca de seis milhões de cabeça.
“Esses investimentos foram feitos em regiões que já possuíam frigoríficos. Talvez um estudo ou até mesmo tenha faltado planejamento adequado, o que facilitou o fechamento de algumas plantas frigoríficas em Mato Grosso”, explicou Latorraca.
Segundo Latorraca, nos últimos anos, a oferta de mercado na pecuária diminuiu o estoque, aumentando o preço da arroba no mercado. “Isso pressionou as plantas frigoríficas a fecharem as portas. Por isso, os investimentos que aconteceram de 2007 a 2012, combinados a maior oferta do boi, foram fundamentais para que alguns frigoríficos deixassem o estado”, disse a testemunha.
Latorraca afirmou ainda que as cidades onde as plantas frigoríficas foram fechadas influenciaram negativamente na economia local. “Num espaço curto, houve um desregulamento do mercado, que foi sanada com a lei de oferta e demanda regendo o mercado da carne”, disse o diretor do Imea.
Na reunião ordinária desta terça-feira, a CPI aprovou ainda um requerimento de quebra de sigilo de empresas dos frigoríficos junto à Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz). Os parlamentares querem informações dos últimos nove anos. Eles querem saber ainda informações das notas fiscais, de abates bovinos, realizados em outros estados brasileiros.