A demora na recuperação da economia, com enfraquecimento da demanda pelos serviços de transporte, mantém o cenário de dificuldades no setor. Conforme dados divulgados pela NTC&Logística (Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística), 65,4% das transportadoras de cargas estão com caminhões parados. A média é de 11,2% da frota que está sem rodar. Além disso, no primeiro semestre de 2016, 77% dos empresários relataram queda no desempenho financeiro da empresa.
O problema é que as perdas são permanentes. “A frota está parada, mas tem custos fixos com os quais tem que se arcar, como licenciamento, seguro. Tem a depreciação do caminhão, que continua perdendo valor, além do capital imobilizado, ou seja, o veículo está parado, em alguns casos as prestações ainda sendo pagas, e não tem mercado para que ele possa ser revendido”, explica Lauro Valdivia, assessor técnico da entidade.
Isso gera outra conta preocupante: caminhões parados representam cortes de pessoal nas empresas. Os dados não são oficiais, mas Valdivia estima que, se a frota paralisada está, na média, em 11,2%, as demissões devem ter chegado a 20% do efetivo.
O estudo, elaborado pelo Conet (Conselho Nacional de Estudo em Transporte, Custos, Tarifas e Mercado), ainda aponta defasagem expressivas do frete, que chega a 9,8% para a carga fracionada e a 22,9% para a lotação. A análise é feita com um comparativo entre os preços praticados no mercado e os custos da atividade, ou seja, desconsidera, inclusive, o lucro das empresas.
Segundo Valdivia, na atual realidade de mercado, os transportadores tentam diminuir os preços para que os serviços sejam contratados. Ele esclarece que, no caso da carga fracionada, a defasagem é inferior porque a margem para diminuição dos preços também é menor, já que envolve diferentes pontos de coleta e distribuição. Na lotação, por sua vez, há mais flexibilidade para mexer nos custos.
No curto prazo, será difícil recuperar essas perdas. Mas Valdivia alerta que os transportadores devem recompor os preços para, ao menos, cobrir a inflação.
Outro problema, alerta o assessor técnico da NTC, é que a situação de dificuldades se prolonga desde 2014. Com dificuldades, empresas fecharam as portas e aquelas que continuaram operando cortaram recursos físicos e humanos. Lauro Valdivia prevê que, quando a economia se recuperar, os efeitos disso serão impactantes. “Quem necessitar do transporte, passará apuros, porque até as empresas se recomporem, com trabalhadores e espaço para atender à demanda, quando voltar a crescer, vai levar um tempo”, diz.
Mas os transportadores estão mais otimistas e acreditam em alguma recuperação até o fim do ano. Para 60% deles, o frete vai melhorar no segundo semestre de 2016. Contudo, conforme Valdivia, o cenário ainda é de incertezas: “depende de uma série de fatores da conjuntura econômica e política. Se tudo correr de acordo com o que o mercado espera, vamos ter uma melhoria na condição”.