Nova regra aperfeiçoa informações sobre tipos de solos e funcionamentos deles associados às relações clima e planta (ZARC)
Uma nova regra passa a valer para o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) a partir da próxima safra. Baseada em pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, dobra de três para seis as classes de água disponível (AD) no solo, passando a representar 99% das terras agrícolas brasileiras. Com isso, fortalece a operacionalização do Zarc como instrumento de política pública. Até que a instrução normativa seja publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) continua valendo a regra atual. A nova vai sendo implementada conforme as novas instruções para as culturas.
O conceito de AD indica a quantidade de água que pode ser armazenada no solo e utilizada pelas plantas. Trata-se de um atributo de extrema importância para a agricultura, pois impacta diretamente no tempo em que uma cultura conseguirá sobreviver sem chuva. A metodologia antiga do Zarc considerava três classes de água disponível no solo sendo uma para solo arenoso, outra para solo de textura média e outra para solo argiloso, diferenciadas pelo conteúdo de argila do solo.
Com a atualização, o Zarc passa a considerar seis classes de água disponível, abrangendo um intervalo desde 0,34 mm de água por centímetro de solo até valores maiores que 1,84 mm/cm, o que compreende mais de 99% dos solos agrícolas brasileiros na atualidade. “O maior número de classes permitiu considerar adequadamente uma amplitude maior de condições hídricas em diferentes tipos de solos e regiões brasileiras, ao mesmo tempo em que aumentou a precisão da estimativa do risco hídrico dentro do intervalo de cada classe”, diz o pesquisador da Embrapa Agricultura Digital (SP), José Eduardo Monteiro.
“O objetivo da nova regra é aperfeiçoar o uso da informação, aumentar o número de cenários, os diferentes ambientes ou ocorrências de tipos de solos e funcionamentos deles associados às relações clima e planta. As novas classes de AD dos solos do Brasil serão estimadas não só pelos teores de argila, mas também pelas demais frações granulométricas do solo: areia e silte,” diz o pesquisador Balbino Evangelista, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).
“No passado, todo o risco era estimado para apenas três tipos de solo, caracterizados por três níveis fixos de água disponível (AD = 0,7; 1,1 e 1,5 mm/cm), os quais eram estabelecidos basicamente pelo teor de argila. Tal metodologia era usada desde o início dos trabalhos de Zarc (1996) e eram frequentes os questionamentos quanto à água disponível a ser considerada numa determinada região. Além disso, hoje sabe-se que a composição granulométrica (textural) do solo é muito mais complexa do que apenas o teor de argila para a definição da água disponível de um solo”, explica José Renato Bouças Farias, pesquisador da Embrapa Soja (PR).
- A nova regra é resultante de pesquisas da Embrapa, envolvendo Unidades de Pesquisa de diferentes regiões brasileiras.
- A antiga metodologia considerava apenas três classes de AD, sendo uma para solo arenoso, outra para solo de textura média e outra para solo argiloso.
- O conceito de AD indica a quantidade de água armazenada no solo e é determinante para a agricultura, pois determina o tempo que uma cultura conseguirá sobreviver sem chuva.
- O maior número de classes de AD aumenta a eficiência e acurácia dos plantios em diversos tipos de solos.
- Ao mesmo tempo, amplia a precisão da estimativa do risco hídrico dentro do intervalo de cada classe.
- Por isso, tem potencial de aperfeiçoar o Zarc como instrumento de política pública no Brasil.
- A nova metodologia será usada no Zarc-Soja na safra de 2022, especialmente para mitigar os efeitos da deficiência de água nessa cultura.
Estudo resultou em equação preditiva de AD em diferentes solos brasileiros
Na nova regra, a AD é estimada para o solo de cada área de produção, a partir dos teores de silte, areia e argila, através do uso de uma equação (função de pedotransferência – PTF) devidamente ajustada e validada para os solos predominantes e de maior uso agrícola no Brasil. “Passamos seis meses tentando estabelecer uma equação que conseguisse predizer desde os solos siltosos da Amazônia até os solos argilosos bem estruturados típico dos latossolos”, revela o pesquisador da Embrapa Solos (RJ), Wenceslau Teixeira.
“Começamos um processo de validação dessa equação com as pessoas que trabalham diretamente nas áreas de produção em Mato Grosso, Paraná, e Região Nordeste, entre outras. Trabalhamos em diversas frentes para aumentar o conhecimento e a disponibilidade das características físico hídricas dos solos do Brasil.” conclui Wenceslau.
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Água disponível: conceito fundamental na gestão da produção
O conceito de AD indica a quantidade de água que pode ser armazenada no solo e utilizada pelas plantas. A capacidade dos solos de reter água em sua matriz porosa é função das suas propriedades físicas e é uma característica determinante para o crescimento e a produtividade das culturas agrícolas. A AD do solo pode ser determinada a partir de amostras coletadas do campo e analisadas em laboratório.
Porém, uma maneira muito mais simples, prática e barata de se estimar a água disponível de um solo é pela análise granulométrica. A estimativa a partir da granulometria do solo não é o método mais exato, mas permite uma boa aproximação além de ser o mais simples possível. “A granulometria do solo é um dos fatores determinantes para a capacidade de reter água e, portanto, pode ser usada na estimativa da água disponível,” explica José Eduardo.
Espera-se aumentar a precisão na determinação da AD efetivamente representativa da área em produção, aprimorando a qualidade das informações disponíveis para subsidiar a gestão de riscos e o planejamento da produção. O próximo zoneamento, que é o da soja, um dos maiores, já vai incorporar essa nova metodologia.
“A composição e funcionamento de solos, associados a outros componentes do meio biofísico, é complexo. É importante dizer que a pesquisa, a ciência de solos precisa avançar, os métodos precisam evoluir para gerar resultados mais precisos, com menor incerteza e, com isso, gerar conhecimento, tecnologias para melhor apoiar as tomadas de decisão pelos integrantes das cadeias do agro, e também dos gestores de políticas públicas. E o Zarc é um ótimo exemplo”, acrescenta Balbino.
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Impacto da deficiência de água na soja
Na safra 2020/2021, o Brasil produziu aproximadamente 138 milhões de toneladas de soja em cerca de 40 milhões de hectares, de acordo com levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), consolidando o País como líder mundial na produção e na exportação do grão. A oleaginosa está presente em todas as regiões brasileiras e os três maiores estados produtores estão concentrados no Centro-Oeste e Sul do Brasil. O grão é a principal fonte de proteína, em nível mundial, sendo usado em produtos industrializados, biodiesel e em ração animal.
Porém, reduções constantes na safra de soja no Sul do País vêm ocorrendo devido à deficiência de água para que as plantas se desenvolvam plenamente. Segundo estimativas da Conab, para a safra 2021/22, somente no Rio Grande do Sul e no Paraná – segundo e terceiro produtores nacionais – a quebra na safra pode ser superior a 50%, o que representa perdas próximas a 38 milhões de toneladas de grãos. Dessa forma, cerca de US$ 19 bilhões deixarão de entrar no bolso do produtor, somente na safra 21/22.
Para José Renato Bouças Farias, o Zarc é uma das ferramentas disponíveis para auxiliar os produtores e técnicos nas tomadas de decisão. “Recomendamos evitar as regiões e épocas reconhecidamente de maior risco de seca para minimizar as perdas”, destaca. “Isso porque levantamentos apontam que as áreas com Zarc apresentam índices de perdas, por eventos climáticos adversos, quatro vezes menores que as demais áreas”, finaliza o pesquisador.
Por Carlos Dias/ Embrapa Solos
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