A produção estimada do ginseng brasileiro para a safra 2019-2021 é de 300 toneladas, sendo que 95% da produção é exportada. A China é o principal destino e fica com metade do que é vendido lá fora. Uso popular indica que a raiz aumenta a disposição, o apetite e é até afrodisíaca.
O município de Querência do Norte, no Noroeste do Paraná, é o reduto do ginseng brasileiro. Por seus 914 quilômetros quadrados repletos de terra úmida, a planta medicinal impera principalmente nas ilhas e várzeas do Rio Paraná, o segundo maior rio da América do Sul, localizado bem próximo ao pequeno município com pouco mais de 12 mil habitantes.
A planta, no entanto, só começou a gerar negócios na região no final da década de 90, quando os agricultores locais se juntaram a pesquisadores e técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), liderados por Cirino Corrêa Júnior, coordenador estadual de plantas potenciais, medicinais e aromáticas da entidade.
“Ao chegarmos ao município, identificamos a planta e incentivamos o cultivo e a retirada de forma correta, sempre respeitando o meio ambiente e a preservação da espécie”, conta Corrêa Junior, que escreveu uma tese sobre o tema, enquanto fazia seu doutorado na Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp (universidade de São Paulo).
Até então, os coletores utilizavam fogo para queimar a vegetação que escondia o ginseng, uma vez que a mata precisa estar limpa para que ele possa ser retirado. A prática da queimada, além de crime ambiental, estava colocando a planta em risco de extinção.
Negócios
Em 2005, após o apoio da Emater, os agricultores da região fundaram a Aspag (Associação de Pequenos Produtores de Ginseng de Querência do Norte), com o objetivo de produzir ginseng orgânico e sustentável. “Começamos a profissionalizar a cultura aqui na região”, diz o sócio-diretor da entidade, Misael Jefferson Nobre.
No ano de 2015, segundo levantamento do Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, a produção da raiz foi de 225 mil quilos – montante 89% superior ao registrado no ano anterior. Naquele ano, a movimentação gerou R$ 675 mil em negócios para os produtores rurais.
O ginseng brasileiro atraiu inclusive compradores de países europeus e asiáticos. A França, por exemplo, adquire três toneladas por ano do produto, enquanto o Japão cerca de uma tonelada. Em setembro deste ano, uma comitiva chinesa fará uma visita em Querência de Norte. “É mais uma chance de mostrarmos a qualidade do nosso produto para compradores de outro país”, conta Nobre.
Sucesso internacional
E foi por causa dos benefícios do ginseng brasileiro que chineses, japoneses e franceses atravessaram o oceano para comprar a raiz. Para atender a essa nova demanda, a planta deixou as ilhas do rio Paraná e começou a ser cultivada nos assentamentos.
Animados com as vendas, ilhéus e assentados montaram a Associação de Pequenos Agricultores de Ginseng de Querência do Norte (PR). São 27 associados que cultivam a raiz em cerca de 50 hectares.
Qualidade
O produtor relata, todo orgulhoso, que o ginseng produzido em Querência do Norte, também conhecido pelos nomes de batata-do-mato, corango, corrente, sempre-viva e paratudo, é o melhor do Brasil. “É puro e feito apenas com a raiz da planta, local onde está concentrado o seu poder”, diz.
Para saber se é realmente puro, continua Nobre, a planta tem que ser bem amarela. “Quando tem baixa qualidade, por causa da presença do caule e das folhas da planta, ela fica esbranquiçada e amarronzada”, acrescenta.
Falta de pesquisas
A comercialização poderia melhorar se o ginseng brasileiro fosse reconhecido como planta medicinal, diz o técnico agrícola da Emater-PR, Wesley Santa Passo. “Para tanto seria necessário uma pesquisa de uma instituição científica, mas como o mercado é pequeno e ainda não gera tanto lucro, nenhuma universidade fez ainda”, afirma.
Hoje, os produtores dependem de atravessadores para venderem seus produtos em território nacional ou internacional.
Ginseng e a medicina popular
O ginseng brasileiro, que tem nome científico de Pfaffia glomerata, é utilizado há séculos pelos índios brasileiros. Suas raízes são usadas principalmente como tônicas e para evitar várias doenças, como diabetes, câncer e tumores, relata Corrêa Júnior, da Emater.
A planta só teve seus benefícios cientificamente comprovados, segundo Corrêa Júnior, após estudos feitos por pesquisadores asiáticos nas décadas de 80 e 90. “Verificou-se que a raiz da planta tem componentes que atuam na regeneração das células, na purificação do sangue e na regularização das funções hormonais e sexuais, por exemplo”.
De acordo com ele, das 31 espécies encontradas na América Central e do Sul, 21 estão no Brasil. “Nosso País é o mais importante centro de coleta de espécies deste gênero”, acrescenta Corrêa Júnior.
* Com informações da Agência de Notícias do Paraná
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