Imagine-se em um carro confortável, viajando pelas estradas do Cerrado brasileiro para curtir as férias com a família. Olhando para o horizonte, você vê uma linda paisagem rural, com vastos campos de, soja ou milho, se estendendo até onde a vista alcança. Pode parecer um cenário simples, mas esta visão esconde uma verdadeira história de superação, complexidade e uma profunda conexão com o meio ambiente. Vamos embarcar nessa jornada e descobrir como o agronegócio brasileiro está conectando campo e cidade, promovendo uma verdadeira revolução social sustentável.
A produção de alimentos e a exigência dos mercados internacionais
Para começarmos esta matéria especial, precisamos admitir um conceito importante: os mercados internacionais estão cada vez mais exigentes quanto à sustentabilidade na produção de alimentos. O mundo precisa de alimentos que respeitem o meio ambiente e garantam a segurança alimentar. Para se comercializar nesses mercados, os produtores precisam adotar práticas agrícolas que minimizem o impacto ambiental, conservem recursos naturais e garantam a rastreabilidade dos produtos. Essa demanda por sustentabilidade está impulsionando inovações tecnológicas, práticas de cultivo responsáveis e uma postura industrial mais humanizada.
Em uma conversa franca com Jai Shroff, CEO global da UPL, questionamos sobre o trabalho que a indústria vem realizando junto aos produtores rurais, para aumentar a produtividade agrícola e ao mesmo tempo reduzir o impacto ambiental. Nesse sentindo, Shroff comenta que a empresa já está atuando para o fortalecimento dessa relação de confiança, para que os resultados sejam positivos. “Estamos construindo um relacionamento muito próximo e amigável com nossos clientes, os agricultores, de uma forma muito próxima para realmente poder ter um relacionamento de confiança mútua com eles, que é construído sobre respeito mútuo e parceria e relacionamento de longo prazo.” explica Jai.
A UPL é uma multinacional indiana e umas das gigantes na área de soluções agrícolas para proteção de plantas. E a Agricultura Regenerativa é mencionada pelo CEO como a chave para aumentar a produtividade e minimizar os impactos ambientais. “E quando estamos falando sobre aumentar a produtividade agrícola da mesma área de terra e reduzir a pegada de geração de carbono, uso de fertilizantes, uso de água, essas são práticas regenerativas, cultivando culturas de cobertura e mantendo o carbono do solo protegido.”, completa.
Brasil, o celeiro do mundo
Agora vamos falar de produção de alimentos. Quanto a isso, o Brasil é considerado o celeiro do mundo. O agronegócio contribui significativamente para o PIB brasileiro, representando aproximadamente 23,8% do total em 2023, segundo segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA. Nosso país ocupa posições de liderança na produção e exportação de diversos produtos agrícolas, como soja, açúcar, suco de laranja, café, carne bovina e carne de frango. A agricultura brasileira é reconhecida mundialmente por sua eficiência e capacidade de inovação, fatores que mantêm o país entre os principais produtores e exportadores de commodities agrícolas do mundo.
Para termos noção do tamanho dessa produção, vamos destacar apenas as duas culturas citadas em nosso exemplo inicial, soja e milho. O Brasil produziu cerca de 149 milhões de toneladas de soja e 125 milhões de toneladas de milho na safra 2022/2023, com Mato Grosso sendo o maior estado produtor. Este destaque não é apenas quantitativo, mas também qualitativo, adotando práticas sustentáveis inovadoras e tecnologias avançadas para garantir uma produção eficiente e ambientalmente responsável.
Ou seja, sabe aquela paisagem rural que você viu na estrada? Ela foi feita com práticas sustentáveis!
Benefícios diretos no bolso do consumidor
Além de belas paisagens, os benefícios do agronegócio são facilmente visíveis em nossa sociedade. Com uma cadeia complexa de produtos e serviços, o setor gera emprego, renda e inúmeras oportunidades. Mas podemos notar isso de forma mais direta, se observarmos os preços dos alimentos, que caíram drasticamente nas últimas cinco décadas, deixando nosso prato de comida mais barato e tornando o Brasil um grande exportador. E para confirmar isso, viajamos até Piracicaba, interior de São Paulo, para conhecer de perto o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada -CEPEA/ESALQ, pertencente a USP, local onde boa parte dos números do agro são processados.
Na ocasião, conversamos com o Prof. Geraldo Barros, Coordenador Científico do Cepea, sobre os dados históricos relacionados ao preço dos alimentos a partir do avanço do agronegócio brasileiro. O pesquisador revela que os preços dos alimentos hoje estão em torno de 40% dos valores reais da década de 70. “Se você comparar os preços dos alimentos em 1970-75 com os preços hoje, em termos reais, é uma relação de 100 para 40. O preço dos alimentos hoje está em torno de 40% em termos reais, do que era lá atrás“, exemplifica o Prof. Barros. Esta analogia nos permite visualizar não apenas números frios, mas sentir no bolso o impacto dessa transformação.
Sem o devido reconhecimento, na avaliação do especialista, o agronegócio tem conduzindo com maestria um processo de inovação, eficiência produtiva e expansão da economia brasileira “Esse aumento de produção levou a uma queda espetacular de preços. O Cepea, o Centro de Pesquisas do Agronegócio da Universidade de São Paulo, está trabalhando há 42 anos… tentando conhecer os mais diferentes aspectos do agronegócio…“, compartilha Barros sobre o compromisso da entidade em gerar dados científicos confiáveis sobre o avanço contínuo do setor.
No Cepea, os coeficientes técnicos e práticas ambientais são registrados detalhadamente, assim como os custos de produção, preços de insumos e vendas regionais. Essas informações atualizadas são fundamentais para a gestão sustentável dos negócios agropecuários, identificando ineficiências e oportunidades para produtores, cooperativas, agroindústrias, traders, corretores, atacadistas, supermercados e varejistas.
Sustentabilidade além dos números
Mas não se trata apenas de números. Como dissemos no início, produzir com sustentabilidade é vital para a manutenção do equilíbrio ambiental. E mais uma vez o Brasil está na vanguarda dessa transformação. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, há mais de 50 anos desempenha um papel crucial no desenvolvimento do agronegócio brasileiro, impulsionando inovações tecnológicas e práticas sustentáveis que aumentam a produtividade e a competitividade do setor. Suas pesquisas e projetos, como o desenvolvimento de novas cultivares e técnicas de manejo sustentável, ajudam a resolver desafios agrícolas e ambientais, garantindo que o Brasil se mantenha na vanguarda da produção mundial de alimentos e acesse os mercados mais exigentes.
Para esclarecer melhor como isso funciona na prática, visitamos a sede da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna-SP. Fundada com a missão de integrar agricultura e meio ambiente, a entidade atua em diversas áreas, incluindo a avaliação de impactos ambientais, gestão de recursos naturais, tecnologias de mitigação de gases de efeito estufa, e recuperação de áreas degradadas.
Paula Packer, Chefe Geral da unidade, nos conta que um dos destaques da instituição é o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), que promove práticas agrícolas sustentáveis, como a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária-floresta, e o uso de sistemas agroflorestais. Essas tecnologias visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa, aumentar a produtividade agrícola e melhorar a sustentabilidade dos sistemas de produção. “Estamos na vanguarda do desenvolvimento de ferramentas para mensurar a sustentabilidade, ajudando produtores a adotar práticas que reduzam emissões de gases de efeito estufa e melhorem a fertilidade do solo. O Plano ABC inclui tecnologias como a recuperação de pastagens degradadas e a integração lavoura-pecuária-floresta, promovendo uma agricultura de baixo carbono”, explica Paula.
Packer também comenta que a Embrapa Meio Ambiente está trabalhando com a promoção do mercado de carbono, desenvolvendo ferramentas para medir e verificar a sustentabilidade das práticas agrícolas. Essas iniciativas são fundamentais para garantir que o agronegócio brasileiro se mantenha competitivo e alinhado com as exigências ambientais globais.
Mato Grosso no protagonismo da agricultura sustentável
Chegou a hora de falarmos desse gigante. Mato Grosso é o principal estado produtor agropecuário do Brasil, destacando-se na produção de soja, milho, algodão e carne bovina. No estado, diversas técnicas inovadoras estão sendo aplicadas para garantir a sustentabilidade da produção agrícola. O plantio direto, que reduz a erosão do solo e mantém a umidade, é amplamente utilizado. A agricultura regenerativa, focada na recuperação da saúde do solo e no aumento da biodiversidade, está ganhando espaço. Além disso, a integração lavoura-pecuária-floresta permite um uso mais eficiente da terra, combinando diferentes tipos de produção para otimizar os recursos e reduzir o impacto ambiental.
E como de costume, não basta apenas falarmos, é importante mostrar isso acontecendo na prática. Portanto, visitamos o Grupo Bom Futuro, uma das maiores empresas agropecuárias do Brasil, com sede na capital Cuiabá. Fundada em 1982, a empresa se destaca por sua vasta extensão de terras e produção diversificada. O grupo opera 42 unidades de produção distribuídas por Mato Grosso, totalizando 600 mil hectares de cultivo, onde são produzidas anualmente 1,9 milhões de toneladas de grãos, 300 mil toneladas de pluma de algodão e 400 mil toneladas de caroço de algodão. Além disso, a Bom Futuro possui o maior projeto de integração lavoura-pecuária do mundo, com 64 mil hectares dedicados à produção bovina e um abate anual de 90 mil cabeças de gado.
A empresa também investe em sustentabilidade, com práticas de plantio direto e a manutenção de reservas de vegetação nativa, destacando-se como uma referência mundial em produtividade sustentável. Elaine Lourenço, Gerente Ambiental, sublinha a importância da sustentabilidade para uma alta produção. “Não é possível pensar em alta produção sem pensar no cuidado ambiental“, afirmou. Com 99.500 hectares de área preservada, o grupo demonstra sua preocupação e cuidados com o meio ambiente. “Investimos em pesquisas de biológicos e agricultura regenerativa, buscando mensurar o estoque de carbono no solo, especialmente no cerrado brasileiro.“, completa Elaine.
O trabalho das entidades de classe na orientação das melhores práticas é outro destaque no estado. A Aprosoja Mato Grosso desempenha um papel crucial em apoiar os produtores rurais e promover a agricultura sustentável. Através de programas como o “Soja Legal”, a entidade fornece diagnósticos socioambientais detalhados, ajudando os agricultores a identificar e resolver problemas em suas propriedades. Samantha Diniz, gerente de sustentabilidade da Aprosoja, explica os benefícios diretos do programa. “Entre outros benefícios, ter um diagnóstico em mãos facilita o acesso a financiamentos, mostrando que o produtor está em conformidade com as normas ambientais”, disse Samantha.
A Dra. Alessandra Panizi, nossa especialista em Direito Ambiental, conversou com Samantha sobre a importância do diagnóstico socioambiental. Este diagnóstico é fundamental, pois pode revelar embargos e outras questões que impactam a produção agrícola. Muitas vezes, os produtores desconhecem esses embargos, que embora pequenos, podem afetar significativamente a área total de suas propriedades. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.
Esse é o Mato Grosso, um gigante pela própria natureza.
A comunicação pra fora da porteira
Agora, vamos voltar nossos olhos novamente para o Brasil. Tenho certeza de que, depois de conhecer um pouquinho mais sobre o setor agro, você deve estar, no mínimo, surpreso como tudo isso acontece e ainda poucas pessoas tem conhecimento. É impressionante perceber a complexidade e a eficiência do agronegócio brasileiro, mas também é preocupante notar a falta de comunicação sobre essas práticas essenciais. Se a população urbana soubesse mais sobre o que acontece no campo, certamente haveria mais valorização e apoio para os nossos produtores. Afinal, o que seria de nossas mesas sem o trabalho árduo e inovador desses profissionais, não é mesmo?
Bem, para tratar sobre assunto, conversamos com Ricardo Nicodemos, presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro – ABMRA, que trouxe à tona uma questão crucial: a necessidade de uma comunicação mais eficaz entre o campo e a cidade. “A população precisa entender o que fazemos. Comunicação não é o que você fala, mas o que o outro entende“, destacou Nicodemos.
A pesquisa “Percepções Sobre o Agro: O Que Pensa o Brasileiro“, realizada pela entidade, revelou que “7 a cada 10 brasileiros têm uma atitude positiva em relação ao Agro” e que o “Agro é um dos setores mais admirados pelos brasileiros“. Este levantamento foi o ponto de partida para o desenvolvimento do projeto “Marca Agro do Brasil“. Uma iniciativa que nasce com a grande missão de tornar o agro uma paixão nacional. “Nós precisamos contar as nossas histórias. Porque senão, nós deixamos de construir o nosso posicionamento. Isso também acontece fora do Brasil, com uma diferença, lá fora nós temos concorrentes comerciais. Portanto, as ações que esses concorrentes fazem, a forma com que eles posicionam o Brasil é diferente, é muito mais agressiva.“, explica Nicodemos, se referindo aos ataques que o país enfrenta do ponto de vista ambiental.
“Portanto, todas as vezes que saem notícias sobre o agro brasileiro, sempre tem algum viés relacionado a desmatamento, a queimadas. Mas nossa intenção é de que o projeto Marca Agro do Brasil estenda ações para que a gente possa alcançar também o público no exterior. Mas o que nós entendemos é que primeiro nós precisamos fazer a lição de casa.“, comenta. Aperte o play no vídeo abaixo para ver a entrevista completa.
Desafios e oportunidades futuras
Chegando ao final desta matéria especial, podemos notar que o futuro do agronegócio brasileiro é um campo fértil de possibilidades. Em uma série de debates propositivos, especialistas do setor têm explorado as direções e os desafios que o agro brasileiro deverá enfrentar até 2050. A ciência e a tecnologia continuarão a desempenhar um papel crucial, com investimentos que ajudarão o Brasil a manter sua posição de liderança global na produção de alimentos.
Entre os desafios identificados estão a necessidade de manter um arcabouço institucional robusto, reduzir ainda mais o custo da alimentação para os brasileiros, abrir novos canais de exportação e incluir mais agricultores na dinâmica produtiva sustentável. A conectividade no campo, o uso de tecnologias avançadas e o compartilhamento de responsabilidades socioambientais com a sociedade serão fundamentais para enfrentar esses desafios.
O potencial dos biocombustíveis e a importância da regulação para garantir uma produção segura e sustentável também são estratégias fundamentais. À medida que o Brasil avança em direção a uma agropecuária de baixo carbono, será essencial lidar com questões como a produtividade, a adoção de inovações e a mitigação dos gases de efeito estufa.
Do campo à mesa, uma jornada de sucesso
E para fecharmos como de costume nossa jornada, com exemplos práticos, vamos imaginar agora o percurso que um simples prato de comida faz até chegar à nossa mesa. Pense em uma refeição típica: arroz, feijão, carne, salada. Cada um desses ingredientes tem uma história que começa no campo.
Primeiro, os grãos de soja e milho são plantados e cultivados em fazendas como as de Mato Grosso. A soja, por exemplo, pode ser usada para alimentar o gado, que por sua vez fornece a carne para nosso prato. O milho pode ser transformado em diversos produtos, desde o óleo de cozinha até alimentos processados. Após a colheita, esses produtos passam por várias etapas de processamento e transporte. Eles são armazenados em silos, processados em fábricas e finalmente distribuídos para mercados e supermercados.
Cada etapa deste processo envolve uma série de profissionais dedicados: agricultores, transportadores, operadores de silos, trabalhadores de fábricas, distribuidores e muitos outros. É uma cadeia complexa e interconectada que depende de inovação, eficiência e sustentabilidade para funcionar corretamente. Quando você coloca um prato de comida na mesa, está, na verdade, trazendo um pedaço do campo para sua vida cotidiana.
Então, o que podemos aprender com essa história? O agronegócio brasileiro é um verdadeiro exemplo de sustentabilidade e integração, promovendo tanto benefícios econômicos quanto ambientais. As iniciativas descritas aqui demonstram que é possível crescer de forma sustentável, assegurando um futuro melhor e mais equilibrado para todos. Seja em Mato Grosso ou em outras regiões do Brasil, essas histórias de inovação e compromisso com o meio ambiente são um farol de esperança para um mundo mais verde e interconectado.
Viva o agronegócio brasileiro!
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