Por Coriolano Xavier, Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.
Competitividade, ascensão, fôlego contra a crise e, mais do que tudo isso, uma espécie de fiador da economia. Esse é o currículo do agronegócio nos últimos tempos. Em 2016, mais uma vez seu desempenho positivo deve se repetir, embora com menor força e, provavelmente, margens mais justas. É o que se consegue ver a partir da segunda estimativa do IBGE para a safra de grãos de 2016 — e da projeção reavaliada do Valor Bruto da Produção (VBP) pelo MAPA.
Pelos últimos números, o VBP consolidado da pecuária e agricultura vai crescer 0,7% sobre 2015, atingindo R$ 515,2 bilhões em 2016. Um recorde, se for confirmado, decorrente das 20 principais lavouras (elevação de 2,8% em relação a 2015, alcançando R$ 338,6 bilhões), pois o composto das proteínas animais deve cair 3%, com um VBP de R$ 176,6 bilhões. E aqui já vemos o efeito da crise brasileira, que afetou o poder de compra da população e reduziu o consumo das famílias.
De acordo com o IBGE, a produção de grãos será de 211,3 milhões de t, 0,9% a mais que 2015. E mais uma vez a soja será o grande destaque em VBP (R$ 123 bilhões no total), com crescimento de 12,3% graças à desvalorização cambial e, também, a novos ganhos de produtividade: a previsão é de aumento de 4,9% na colheita da oleaginosa, para uma área plantada que avançou bem menos — 2,7%.
No milho a história é parecida, com um crescimento de 3,7% no VBP, principalmente por obra do câmbio, que estimulou exportações e puxou o mercado interno para o mesmo alinhamento de preços, levando inclusive algum stress ao perfil de custos do setor animal, na produção de frangos, suínos, leite e confinamento bovino.
Apesar desse quadro positivo em meio à crise, os produtores precisam ficar ligados na rentabilidade. O boi, por exemplo, fornece um bom indício: em fevereiro passado o preço da arroba girava em torno de R$ 155,00 (ESALQ/BMF), que é um patamar historicamente elevado, mas em termos reais representava um valor 4% inferior ao preço de um ano atrás, por conta da inflação de 10,6% (IPCA).
Se bem que a pecuária brasileira passa por um momento virtuoso de modernização, com maior produtividade da terra (mais carne por ha) e maior produtividade do rebanho (mais qualidade e rendimento de carcaça). Tanto que as projeções indicam para os próximos 10 anos um crescimento do rebanho bovino de 0,25% ao ano em média, queda da área de pastagem à base de 1,20% ao ano e aumento da produção de carne em 1,52% ao ano – até 2025, segundo o Outlook Fiesp.
Fica também um sinal de atenção para os preços das commodities, que recuaram no mercado internacional, após longo período de bonança entre 2005 e 2014. O câmbio compensou essa queda dos preços em dólar e, mesmo com o aumento no custo dos insumos importados (fertilizantes e agroquímicos em particular), há um horizonte positivo para a agropecuária, no médio prazo. As margens podem até ficar apertadas; mas como diz um reputado economista, Ivan Wedekin, “lucro menor ainda é lucro”. Ainda bem.
Sobre o CCAS
O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.
Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS no Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel