Há uma inédita presença de candidatos fortemente vinculados ao ruralismo.
A menos de dois meses das próximas eleições, o agro brasileiro se prepara para dois grandes eventos que têm a ver com o seu futuro: o pleito de 7 de outubro e o plantio de mais uma safra de verão.
No primeiro caso há um interessante fenômeno em andamento que tem a ver com o reconhecimento da população quanto à importância do campo na economia. E nem poderia ser diferente: a mídia que cobre o setor rural, tanto a especializada quanto a geral, ficou muito mais esclarecida em agro e mostra diariamente sua influência na vida nacional, seja na composição do PIB (o agronegócio representa 23% do total), seja na geração de empregos (mais de 20%), seja na formação das exportações, cujo saldo só é positivo graças ao superávit do setor no comércio internacional. Esses números aliados ao reconhecimento da sustentabilidade da produção rural e da demanda global por alimentos aqui produzidos terminaram impactando a montagem e o registro das chapas que concorrerão à Presidência e vice-presidência da República.
Com efeito, há uma inédita presença de candidatos fortemente vinculados ao ruralismo. Geraldo Alckmin, por exemplo, buscou a grande senadora gaúcha Ana Amélia Lemos, valente defensora do agro na nossa Câmara Alta, para sua companheira de chapa. Já Ciro Gomes, não tão chegado ao setor, compensou essa condição convidando a também senadora Kátia Abreu, que foi presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e ministra da Agricultura no governo Dilma Rousseff. O paranaense Álvaro Dias escolheu para seu vice o economista Paulo Rabello de Castro, que começou sua carreira na Sociedade Rural Brasileira e, como presidente do IBGE, fez das tripas coração para conseguir implementar o Censo Agropecuário em 2017, que acaba de ser dado à luz. Estes três candidatos estão entre os mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto.
Jair Bolsonaro, outro dos favoritos, embora não tenha um vice de origem rural, tem repetido à exaustão seu compromisso com a segurança no campo, tema cada dia mais caro aos produtores brasileiros de todos os rincões, crescentemente submetidos a assaltos e violências em suas propriedades.
Dos principais candidatos, apenas o PT (com chapa ainda em formação) e a ex-ministra Marina Silva não compuseram suas equipes com figuras de relevo da agropecuária. Mesmo João Amoedo traz como vice Christian Lobauer, que já presidiu entidade do agronegócio de citros e militou em empresa produtora de insumos agrícolas.
E o segundo grande evento em perspectiva é o plantio da safra de verão 2018/19. A população brasileira anda bastante irritada com as recorrentes denúncias de corrupção, com as incompetências de Poderes, com a baixa qualidade da educação, da saúde e da segurança pública, com problemas de transporte urbano, entre outros temas. A incerteza quanto ao que virá depois de outubro também trouxe uma paradeira geral na economia, investimentos não acontecem e com isso o desemprego, maior fantasma de uma nação democrática, não diminui. E esse estado de coisas termina criando inimizades ou reabrindo velhas idiossincrasias, um pouco na linha do “nós contra eles”, indesejável num clima pré-eleitoral.
No campo não é diferente, com agravantes: o preço dos insumos subiu demais no mundo todo, o frete também em função da greve dos caminhoneiros, o que aumentou muito o custo de produção da próxima safra, destruindo margem dos produtores. E a tremenda seca que se abateu sobre amplas regiões do País em muitos casos zerou o lucro.
Mas, em todos os cantos deste imenso Brasil, os agricultores estão lubrificando suas máquinas e plantadeiras, reformando suas colheitadeiras e armazéns, comprando os insumos encarecidos, contratando as mais modernas tecnologias, buscando os melhores profissionais em gestão e se preparam para semear mais uma grande safra. De costas para Brasília e para a grande confusão global de mercados semeada pelas escaramuças entre os Estados Unidos e a China, preparam-se para plantar, de novo, com a mesma fé inabalável de que a semente vai encontrar na terra calor e umidade suficientes para iniciar o milagre da germinação, que a plantinha crescerá e produzirá mais uma vez, trazendo a cada homem e mulher do campo a alegria e a honra de alimentar o mundo.
Por: Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas