Durante exposição no Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, o expositor Roberto Jaguaribe, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), afirmou que o Brasil deve mirar o mercado asiático, que hoje responde por mais de 50% da demanda do agronegócio brasileiro; a China sozinha representa mais de 25%. O evento aconteceu dia 5 de dezembro e trouxe como tema central a imagem e a comunicação do agronegócio.
Apesar dos números robustos, é preciso um duplo esforço por parte dos setores produtivos para ampliar ainda mais o acesso aos mercados internacionais e, também mudar a imagem da agricultura brasileira no exterior.
A Apex já deu os primeiros passos rumo a essa transformação. Com o objetivo de buscar um melhor entendimento do mercado chinês, a Agência criou um núcleo específico para o país asiático. Vale lembrar que, apesar de possuir a maior produção agrícola do mundo, a China não é auto-sustentável em algumas áreas. O Brasil já identificou oportunidades nos setores de alimentação e energia.
Outro detalhe levantado pelo presidente da APEX é que a China faz opções comerciais estratégicas, como os bens de valor agregado e a consequente geração de empregos. Por isso, será necessário um esforço concentrado que envolverá a internacionalização de empresas brasileiras dentro do país asiático. A tendência também é observada no setor agroindustrial e o movimento oposto, com a China cada vez mais presente no Brasil por meio das subsidiárias adquiridas, já real.
Imagem a ser trabalhada
Para Jaguaribe, a APEX-Brasil encontra-se no “local correto” por ter saído do contexto do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e estar no âmbito do Itamaraty. Em sua avaliação, a Agência ganha com a experiência do Ministério de Relações Exteriores em promoção comercial. “Haverá sinergia de capacidade de acesso aos mercados e inteligência comercial com papel importante de apoio às negociações comerciais”, avaliou.
Com o reposicionamento da APEX, o Brasil necessita trabalhar sua imagem no exterior. Apesar de sua produção competitiva – fruto do esforço de modelo de negócio e de pesquisa nos últimos 40 anos – ainda predomina uma imagem negativa, embora isso seja algo equivocado, na avaliação de Jaguaribe.
Então, como inverter essa imagem? Especialmente na Europa, onde ocorrem os debates sobre desenvolvimento sustentável. Conta a favor o fato de o Brasil ser o maior produtor de sustentabilidade do mundo e ter um Código Florestal ambicioso: “temos quase 200 milhões de hectares de pasto que podem ser convertidos em grãos e agricultura”, afirmou. Nesse sentido, Jaguaribe sinalizou que está em andamento um acordo comercial do Mercosul com a União Europeia com o alinhamento do Brasil e da Argentina. “O Brasil está preparado para oferecer muito na área industrial”, disse.
Além disso, o Brasil não está em processo de devastação, mas requer vigilância permanente. A preservação da mata nativa é superior a 60% e a devastação da Amazônia foi estancada, apesar de os números desse ano não serem muito bons.
Opinião concordante tem Marcos Sawaya Jank, consultor internacional de agronegócio e VP da assessoria corporativa da BRF Ásia-Pacífico. “O governo está alinhadíssimo, mas é preciso organizar o setor privado”, disse, reforçando que é importante mudar a geografia da representação, ou seja, o Brasil é exportador de commodities e não player.
Ao avaliar que hoje existe o reconhecimento do agronegócio pela sociedade brasileira, inclusive por ser central na balança comercial, Jank elencou os cinco desafios internacionais a serem enfrentados: competitividade (custos e infraestrutura); acesso a mercados; valor adicionado; melhoria de imagem (comunicação institucional e sustentabilidade) e internacionalização. Segundo informou, a soja entra sem dificuldade na China, mas o milho e a carne encontram barreiras.
Jank também frisou a necessidade de se trabalhar temas transversais, como segurança alimentar; qualidade e sanidade do alimento; sustentabilidade; energia renovável; modelos de produção; produtividade e coordenação de cadeias de suprimento.
Para a mudança do cenário atual, sugere-se o estabelecimento de uma narrativa baseada em dados sólidos, com base científica e a customização de conteúdos para diferentes temas e países, além da participação regular em eventos-chave.
Na mesa de discussões, também esteve presente o CEO da agência publicitária Lew’Lara/TBWA, Luiz Lara. Para ele, a comunicação deve alavancar a categoria de produtos e serviços, criando marcas também no mercado.
Como iniciativas, citou a campanha de valorização do agronegócio por parte do TV Globo e a criação da Academia da Carne Friboi. Em sua análise, o agro está no mundo conectado e informações relevantes, como a ratificação do Acordo de Paris, precisam ser comunicadas. É necessário construir estratégia de comunicação eficaz e permanente.
Feira tradicional ocorre anualmente na França
Na finalização do Cosag, o Cônsul Geral da França em São Paulo, Brieuc Pont, apresentou a experiência com o Salão Internacional da Agricultura (SIA) de Paris, além da Competição Agrícola (CGA) que há 50 anos fortalece a imagem setorial no país. Os números do Salão são robustos: cerca de 700 mil visitantes, com grande impacto comercial e midiático. A SIA será realizada em fins de fevereiro e início de março de 2017.
Segundo Pont, hoje, mais de 900 empresas francesas estão presentes no Brasil, com mais de 100 filiais nos setores da agropecuária, da indústria agroalimentar, dos insumos e dos equipamentos, empregando 500 mil brasileiros.
Fonte: GloboRural