Os números do setor não deixam dúvidas da relevância brasileira no cenário: o País foi responsável pelo fornecimento de 18% da carne bovina consumida no mercado internacional no ano passado.
“O Brasil está para o mercado de carne bovina, assim como o Oriente Médio para o de petróleo”. Desta forma, o pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, integrante do Cepea, define a relevância e a importância do Brasil para o equilíbrio do fornecimento internacional da proteína.
Os números do setor não deixam dúvidas: o Brasil foi responsável pelo fornecimento de 18% da carne bovina consumida no mercado internacional no ano passado. O desempenho mais que expressivo se deu mesmo em um ano pouco positivo para os exportadores nacionais, que viram algumas das mais importantes portas de entrada do produto se fechando após a operação “Carne Fraca” e as delações dos irmãos Batista, proprietários da gigante JBS.
“A crise ocorrida no mercado de carnes brasileiro no ano passado gerou uma grande preocupação no cenário pecuário mundial. Isso porque, se o Brasil deixar de produzir ou comercializar carne bovina, o mundo sofrerá um colapso de consumo e de inflação. A crise na pecuária nacional tornou ainda mais evidente que a carne bovina brasileira, além de ser estratégica para a cadeia e para a economia doméstica, é de extrema importância para a segurança alimentar mundial”, defende Carvalho.
O pesquisador explica que o Brasil é um dos poucos países com produção com escala mundial capazes de manter o fornecimento de uma carne premium durante todo o ano.
De acordo com ele, os principais produtores de carne bovina no mundo—Austrália, Índia, China, Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Paraguai—enfrentam cada qual suas dificuldades produtivas, assim como possuem características distintas uns dos outros.
A Austrália passa, de tempos em tempos, ou de décadas em décadas, por problemas gravíssimos de seca, que reduzem o rebanho bovino, elevando os preços dos animais e, consequentemente, da carne. Vale destacar que a Austrália exporta 80% de sua produção, tendo grande importância no mercado global.
A Índia, por sua vez, tem problemas sanitários e religiosos com seu rebanho. A proibição do abate de fêmeas em algumas regiões do país prejudica a competividade mundial, sem contar a falta de padronização e a qualidade do rebanho.
“A China tem um rebanho interessante, mas com um custo de produção altíssimo e um déficit entre produção e consumo, tornando o país um importador líquido de carne bovina. Diante disso, a China, junto a Hong Kong, foi destino de 40% de toda a carne bovina in natura exportada pelo Brasil no ano passado”, ressalta o pesquisador em seu estudo.
Os norte-americanos, grandes concorrentes do Brasil, ainda que sejam um dos maiores produtores do mundo, se destacam também como os maiores importadores de carne. Os Estados Unidos vendem muita carne bovina a preços altos e compram muita carne mais barata (dianteiro) para parte do consumo doméstico, principalmente para a produção de hambúrgueres.
Quanto à América do Sul, apesar de a Argentina e do Uruguai produzirem gado e carne de alta qualidade e, no caso do último país, maiores taxas de crescimento, ambos têm limites geográficos e de rebanho, sem contar os problemas políticos, no caso argentino.
“O mercado internacional precisa da carne brasileira. Uma prova disso é que muitos países que haviam fechado suas portas por conta da “Carne Fraca” não demoraram tanto a reabri-las e as compras voltaram de forma forte. Claro que houve um trabalho do governo brasileiro para que o processo fosse o mais rápido possível, mas o que se observa é que o produto nacional faz falta no mercado global”, diz Carvalho.
PRODUTIVIDADE
Dados levantados pelo Cepea mostram também aumento na produtividade média da pecuária nacional, tanto no sistema de produção extensiva como no de confinamento. No caso da atividade de cria, no início dos anos 2000, 100 vacas ocupavam, em média, 250 hectares e registravam taxa de desmame de 40%, produzindo um bezerro de cerca de 170 quilos.
Já em 2017, ainda segundo dados do Cepea, 100 vacas passaram a ocupar menos espaço, de cerca de 150 hectares, e a produzir bezerros mais pesados, com média de 200 a 210 kg. Além disso, a taxa de desmame passou a ficar em torno de 65%.
“Apesar desse avanço, quando comparados esses índices do sistema de cria com os demais países produtores, nota-se que o Brasil ainda tem um caminho de desafios pela frente, mas de muitas oportunidades”, acrescenta Thiago Carvalho.
Fonte: SNA