Produtores rurais do país já contrataram R$ 92,6 bilhões em crédito rural neste ciclo 2020/21, ou quase 40% dos recursos reservados no atual Plano Safra até o fim de junho do ano que vem
Segundo dados do Banco Central compilados pelo Valor, o total de julho a outubro foi 21% superior que nos quatro primeiros meses da temporada passada. Alta rentabilidade no campo, boas perspectivas com a próxima colheita e até a leve queda nos juros nas linhas do Plano Safra ajudam a explicar o apetite pelos financiamentos. Algumas áreas, porém, vão ficar com fome caso o governo não disponibilize mais recursos para linhas já esgotadas.
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Os desembolsos de recursos para custeio aumentaram 16%, para R$ 52,4 bilhões. Nas linhas de investimentos a alta chegou a 50%, para R$ 26,4 bilhões, e nas voltadas à comercialização houve incremento de 5%, para R$ 5,7 bilhões. Já os recursos para industrialização apresentaram leve queda de julho a outubro ante o mesmo período da safra 2019/20 – de 2,5%, para R$ 7,9 bilhões.
Com a suspensão por parte do BNDES, na semana passada, do recebimento de novas propostas para o Moderfrota – principal linha de investimentos, para aquisição de máquinas agrícolas -, a Associação das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) já pediu um aporte extra de R$ 9,3 bilhões ao orçamento inicial de R$ 8,7 bilhões. Também há pedidos de reforço no Inovagro, Pronaf Mais Alimentos e PCA.
Conforme os dados do BC, já foram contratados R$ 4,6 bilhões do Moderfrota, quase 80% mais que entre julho e outubro do ano passado. No Inovagro foram acessados R$ 1,2 bilhão, no PCA o total atingiu R$ 844 milhões e no Pronaf Mais Alimentos chegou a R$ 3,9 bilhões – altas de 43%, 70% e 20%, respectivamente.
“Precisamos continuar investindo para modernizar o campo, com irrigação, armazenagem e máquinas mais modernas para aumentar a produtividade, reduzir custos de produção e baixar o custo dos alimentos”, afirmou João Marchesan, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), ao Valor.
Em um ano sem as feiras agropecuárias que tradicionalmente impulsionam as vendas de máquinas, a indústria contou com o “comportamento histórico do produtor”, que está mais capitalizado devido aos preços recorde das commodities e quer antecipar investimentos. “As grandes fábricas já estão vendendo para entrega apenas em fevereiro”, disse Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq. De janeiro a setembro deste ano, o faturamento com a venda dos equipamentos para agricultura aumentou 10%, para R$ 15 bilhões.
Enquanto a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, busca verba extra para a equalização de juros das linhas de investimentos, sua equipe avalia as poucas possibilidades de remanejamento de recursos dentro do Plano Safra. “Está difícil. Como a procura por crédito está forte em todas as linhas, não tem de onde tirar”, afirmou Wilson Vaz Araújo, diretor de Financiamento e Informação da Pasta. O ministério não trabalha com a possibilidade de falta de recursos para equalização de custeio, e não cogita remanejar esse dinheiro para linhas de investimento.
Nesse contexto, a avaliação de especialistas é que esta é a hora de os bancos privados entrarem em campo para emprestar o dinheiro retido nesses meses de crise e aversão ao risco. Mas os juros mais altos nessas instituições são um empecilho, pondera Marchesan. “Para máquinas, equipamentos, armazenagem e irrigação, que demandam prazos de maturação mais elevados, fica inviável”, disse.
Por Rafael Walendorff / Valor Econômico
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