El Niño traz desafios e oportunidades para os produtores de trigo

Avanços tecnológicos e boas práticas de manejo do trigo mitigam os impactos do fenômeno El Niño

No próximo ciclo de triticultura na Região Sul do Brasil, a previsão de retorno do El Niño nos próximos meses traz à tona a necessidade de uma gestão de riscos eficiente. Embora haja incerteza quanto à magnitude dos impactos que esse fenômeno climático poderá causar na safra de inverno, é possível reduzir perdas por meio de boas práticas de manejo no campo, especialmente em um ambiente com maior umidade.

Ao longo dos últimos 40 anos, desde que o fenômeno El Niño foi identificado pela comunidade científica como o aquecimento das águas superficiais no Oceano Pacífico, produtores e assistência técnica aprenderam a lidar melhor com essa condição climática.

Embora os anos de El Niño sejam tradicionalmente vistos como tragédias anunciadas para a produção de trigo e outros cereais de inverno na Região Sul do Brasil, essa percepção nem sempre é justificada. A evolução da tecnologia de produção de trigo tem levado à mitigação das condições adversas, especialmente quando são adotadas as formas corretas de tecnologia de produção e estratégias de gestão de risco, afirma o agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo.

Uma análise realizada pela equipe de agrometeorologia da Embrapa Trigo comparou os mapas de rendimento médio de trigo na Região Sul para os eventos de El Niño nas safras de 1982/1983, 1997/1998 e 2015/2016. A comparação entre as décadas revelou que os impactos negativos verificados nos anos de El Niño têm diminuído ao longo do tempo. Esse desempenho positivo na triticultura sul-brasileira pode ser atribuído ao progresso genético das cultivares e às avançadas tecnologias de manejo de produção, explica o analista Aldemir Pasinato.

Diante da perspectiva do retorno do El Niño e das condições ambientais mais úmidas, especialmente na primavera, os triticultores do sul do Brasil são instados a praticar a gestão integrada de riscos durante a safra de 2023. A adoção de boas práticas de manejo de cultivos e a adesão aos instrumentos de seguridade rural são fundamentais para garantir o sucesso da produção, destaca o pesquisador João Leonardo Pires.

A Embrapa Trigo orienta os triticultores a seguir algumas práticas de manejo que podem minimizar os impactos do El Niño na produção de trigo na Região Sul:

  • Rotação de culturas: É recomendado semear trigo em áreas que tenham utilizado espécies não hospedeiras de doenças do trigo no inverno anterior, como aveia-preta, canola e naboforrageiro. Esse sistema de rotação contribui para reduzir a incidência de doenças e pragas;
  • Intensificação do uso do inverno: É importante planejar as áreas de cultivo de forma a garantir a cobertura do solo durante todo o ano. O uso de culturas como o nabo forrageiro entre o cultivo de verão e o trigo permite a ciclagem de nutrientes, a redução da erosão e a maximização do rendimento de grãos;
  • Respeito aos períodos de semeadura: É fundamental seguir as recomendações do Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos (ZARC) em relação aos períodos ideais de semeadura em cada região. Essas informações podem ser consultadas nas portarias ZARC do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) ou através do aplicativo ZARC Plantio Certo;
  • Diversificação de cultivares: Recomenda-se o uso de cultivares de ciclos diferentes, semeadas na mesma época conforme o calendário do ZARC. Essa estratégia evita que os períodos críticos da cultura ocorram simultaneamente em todos os talhões ou lavouras;
  • Semeadura adequada: Evitar a semeadura em solo excessivamente úmido ajuda a reduzir o risco de ocorrência de doenças, como o mosaico-comum do trigo. Além disso, é importante selecionar cultivares com maior resistência a essa virose e dar preferência a áreas sem histórico da doença;
  • Escolha de cultivares resistentes: Optar por cultivares com boa resistência geral a doenças e com boa germinação dos grãos em pré-colheita é uma medida de precaução importante para minimizar perdas;
  • Acompanhamento meteorológico: Acompanhar as previsões meteorológicas de curto prazo permite tomar decisões de manejo, como semeadura, aplicação de insumos e proteção de plantas, nos momentos mais adequados;
  • Divisão da dose de nitrogênio: Dividir a aplicação de nitrogênio em cobertura ajuda a maximizar a absorção desse nutriente pela planta e reduzir as perdas por lixiviação e escorrimento superficial;
  • Monitoramento de doenças: É essencial realizar o monitoramento constante das doenças, com atenção especial para a giberela. A aplicação de fungicidas para proteção da espiga deve ser feita quando necessário, utilizando produtos e tecnologias de aplicação adequados;
  • Colheita oportuna: Realizar a colheita assim que for possível, evitando a perda de qualidade tecnológica devido a chuvas frequentes na primavera;
  • Seguro agrícola: Contratar um seguro agrícola é uma medida de proteção importante para mitigar os riscos associados ao El Niño e outros eventos climáticos adversos;

Com a aplicação dessas práticas de manejo, os produtores de trigo na Região Sul estarão mais preparados para enfrentar os desafios impostos pelo retorno do El Niño. A evolução tecnológica e o conhecimento acumulado ao longo dos anos têm mostrado que é possível reduzir os impactos desse fenômeno climático na triticultura.

Entenda os aspectos legais envolvidos na sustentabilidade prevista no novo Plano Safra 2023/24

No quadro de Direito Ambiental desta semana, a Dra. Alessandra Panizi esclarece os detalhes mais importantes para adesão ao novo Plano Safra. Aperte o Play e confira!

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