Os ruminantes são animais que, durante sua evolução, conseguiram desenvolver a capacidade de digerir e aproveitar os nutrientes de origem vegetal, como as forragens.
O próprio nome, ruminante, se refere ao ato desses animais regurgitarem o alimento colhido até a boca, onde será novamente mastigado (ruminado) e deglutido novamente. Dentre os animais pertencentes à essa subordem, destacamos os bovinos leiteiros.
Devido à uma simbiose mutualística, com microrganismos presentes no rúmen dos bovinos, a forragem ingerida consegue ser fermentada por esses microrganismos, ou seja, a forragem serve de alimento para bactérias, protozoários e fungos, e os mesmos devolvem para o bovino nutrientes como energia, proteína e alguns minerais e vitaminas, oriundos dessa fermentação.
Portanto, para que essa simbiose mutualística, ou seja, essa “troca de favores” entre vaca e microrganismos, fique em equilíbrio, a nutrição desses seres deve estar bem equilibrada. Há de se fornecer, condições nutricionais e de sobrevivência, tanto para a vaca quanto para os microrganismos ruminais.
Antes da domesticação da vaca leiteira, a forragem colhida era suficiente para manter a sobrevivência e a perpetuação da espécie. A partir do momento em que o homem precisou melhorar a genética da vaca, bem como a sua produção de leite, adicionou-se ao sistema alimentar grãos e farelos vegetais, que, antes, não faziam parte da dieta natural do animal. Sendo assim, as condições de simbiose foram modificadas.
A forragem como alimento base de uma vaca leiteira, seja ela ofertada em pastejo ou fornecida ao cocho, como as silagens ou capins picados, tem como característica principal, a presença da entidade nutricional denominada fibra.
Para facilitar o entendimento em nutrição de ruminantes, definiremos fibra como um componente das forragens, com propriedades físicas (promovem a ruminação) e com propriedades potencialmente nutricionais (celulose e hemicelulose que poderão ser fermentadas pelas bactérias) e propriedade não-nutricional (lignina, que não será digerida, perdendo-se nas fezes do animal). Quando consideramos os componentes celulose, hemicelulose e lignina, damos a esse conjunto o nome de FDN (Fibra em Detergente Neutro).
A FDN, portanto, é uma das características na composição da forragem, que mais influenciará na dinâmica nutricional de uma vaca leiteira. É a digestibilidade da FDN que determinará a quantidade e qualidade no uso de concentrados; é a quantidade e digestibilidade da FDN que poderá determinar a capacidade ingestiva da vaca (limitação física da ingestão, enchimento ruminal); é a quantidade e qualidade da FDN que determinará as condições ótimas de simbiose para que os microrganismos se desenvolvam em um ambiente com pH favorável; é a FDN que poderá determinar a quantidade de gordura produzida no leite.
Contudo, para que animais produzam 15, 30, 60 litros de leite diários somente com a forragem, sua FDN e demais nutrientes, é necessário lançar mão dos concentrados. E para balancear as quantidades mínimas ou máximas do mesmo, é necessário o uso de alguns aditivos, como probióticos, tamponantes, minerais e vitaminas para que o ambiente ruminal não entre em desequilíbrio.
A falta, ou excesso, ou baixa qualidade da FDN forrageira, pode levar o animal a um quadro de acidose, que poderá afetar os cascos, diminuir a ingestão de alimentos, queda na produção e qualidade do leite, queda no sistema imune e nos índices reprodutivos, enfim, ao caos na produção leiteira.
Dessa forma, como prática nas fazendas produtoras de leite, devemos utilizar as peneiras separadoras de partículas para verificarmos o tamanho das partículas forrageiras que irão promover a efetividade ruminal. A “fibra longa” ou fibra efetiva, ou seja, as partículas que possuem um determinado tamanho, que irão acessar os mecanoreceptores presentes nas paredes do rúmen e que são as responsáveis pelo processo involuntário da ruminação, fazendo com que o animal leve saliva com tampões que irão controlar uma possível acidose. Quando essa fibra efetiva não está disponível na matriz nutricional, deve-se utilizar aditivos probióticos, tampões extra e antimicrobianos específicos (orgânicos ou inorgânicos) para o controle desse pH ruminal e crescimento microbiano no rúmen.
Como recomendações nas quantidades de FDN, podemos utilizar:
– Mínimo de 15% de FDN oriunda da forragem;
– Mínimo de 21% na matéria seca, de FDN efetivo;
Devemos lembrar também que quanto melhor a qualidade da FDN, menor o uso de concentrados, que oneram os custos de produção, serão utilizados para uma determinada produção animal. Portanto, quem “dá leite” na vaca é a forragem e não o concentrado. Para isso é que ela foi criada, alimentar-se de forragem. Portanto, trate a produção de seu volumoso, como uma cultura. Planeje, estude, execute e tenha sucesso.
Por Liéber Garcia | Premix