A falta de investimentos relevantes na infraestrutura de transporte nas últimas décadas somada a um problema mais recente – a restrição à circulação e distribuição de carga em áreas urbanas – tem elevado os gastos com logística das empresas.
A deterioração dos meios de distribuição da produção fez esse custo crescer de 11,73% do faturamento bruto das empresas em 2015 para 12,37% em 2017. É o que aponta a pesquisa Custos Logísticos no Brasil, da Fundação Dom Cabral (FDC).
Gasto extra – Esse aumento de 0,64 ponto percentual representa um gasto extra de R$ 15,5 bilhões no biênio, a preços de 2017, de acordo com a Fundação. O professor Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da FDC e responsável pela pesquisa, considera o percentual de 12,37% elevado. Para efeito de comparação, ele cita o equivalente na China (10% do faturamento bruto das empresas, em média) e dos Estados Unidos (8,5%). “Com a diferença de que lá o custo que pesa não é o do transporte, mas o da armazenagem”, diz.
Longa distância – Na estrutura de custos logísticos das empresas, o transporte de longa distância é o fator mais oneroso, representando 40,1% desse tipo de despesa, seguido pela distribuição urbana (23,4%) e pela estocagem (17,7%). O modal rodoviário mantém o domínio absoluto entre os meios escolhidos para circulação das mercadorias: mais de três quartos do total. Já o hidroviário ocupa a lanterna, com menos de 1%.
Maiores aumentos – Segundo a pesquisa, os custos logísticos que mais aumentaram no ano passado foram os de distribuição urbana, seguros, burocracia e rastreamento e segurança. Esse dado foi apurado conforme a percepção dos entrevistados, que atribuíram notas a cada quesito. Esses itens tiveram nota entre 3 e 3,2 num total de 5 – sendo 1 o menor impacto e 5, o maior.
Medidas – As medidas mais adotadas para reduzir o impacto dos custos têm sido a terceirização de frotas (3,9 pontos em 5), negociação de maior prazo para entrega e transferência do custo logístico para os clientes (ambas com 2,7 pontos).
Fatores – De acordo com o levantamento, os fatores que mais pesam no custo da logística para as empresas hoje são a falta de estrutura de apoio nas estradas, as restrições de circulação de veículos de carga e a formação de mão de obra.
Rodovias – A forte participação do modal rodoviário é um dos principais responsáveis pelo aumento dessas despesas, explica Paulo Resende, da Dom Cabral. “Todas as pesquisas mostram que a malha rodoviária brasileira se deteriorou muito nos últimos anos, sobretudo aquela administrada pelo setor público”, comenta. Os grandes caminhões trafegam por estradas ruins e, quando se aproximam dos centros urbanos, são obrigados a fazer o transbordo da carga, transferi-la para veículos menores para a distribuição urbana.
Encarecimento – O transbordo em si já encarece a operação, mas o crescimento de restrições à circulação de carga pelos centros urbanos – criadas por conta dos congestionamentos – tem preocupado a indústria e o setor de transportes.
Abastecimento – Resende acredita que, em pouco tempo, essas restrições possam deixar de ser um problema exclusivamente de tráfego e se transformar em uma questão de abastecimento.
Restrição – A restrição a veículos de cargas, adotada inicialmente por São Paulo há uma década, já vigora em todas as dez maiores regiões metropolitanas do país e começa a entrar também no radar das cidades médias, como Mossoró, de 300 mil habitantes, no Rio Grande do Norte. De acordo com Resende, cerca de 200 cidades de porte médio adotam a medida por questões ligadas à qualidade de vida.
Capitais – Figuram nesse rol as capitais Boa Vista (Roraima) e Macapá (Amapá), além das capixabas Cariacica, Cachoeiro do Itapemirim e Guarapari, a mineira Araxá e as paulistas Bauru, Cubatão e Diadema.
Segurança – O problema da segurança também incomoda as empresas. O risco da carga é um item cada vez mais constante nas planilhas de custos de transporte. Ainda sem uma média do setor, Resende afirma que o custo do frete para o Rio de Janeiro, no eixo da Avenida Brasil, por exemplo, principal entrada da cidade, subiu 30% desde o ano passado por conta do aumento dos roubos de carga e dos riscos para os transportadores.
Ferrovias – Para Resende, é preocupante o fato de que o custo logístico ficou proporcionalmente maior em um período de crise. Ele acredita que essa estrutura de custo só vai mudar no médio prazo com o crescimento da malha ferroviária, principalmente para atender o agronegócio, e com novas concessões de rodovias, especialmente na região Sul do país, onde há uma malha em condições mais propícias para ser explorada pelo setor privado.
Setores – Os investimentos em melhoria da infraestrutura rodoviária beneficiariam principalmente os setores de alimentos e bebidas, têxteis, vestuário e calçados, além de alguns polos da indústria de bens de capital, na avaliação de Resende.
Impacto – Os segmentos da economia com menor impacto da logística sobre o custo são o farmacêutico (média de 4,7% do faturamento bruto), o de bens de capital (5%), a indústria automobilística (5,1%) e a eletroeletrônica (6,1%). Já nos segmentos da construção (18%), do agronegócio (20,7%), de papel e celulose (21,7%) e mineração (26,1%), o peso é maior.
Pesquisa – A pesquisa da FDC reuniu 130 empresas de 13 segmentos, que representam 15,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (a preços de mercado de 2017).
Fonte: Portal Paraná Cooperativo