Ao abrir mesa redonda em conferência no México, o ministro disse que os agricultores dependem da diversidade biológica para suas atividades.
COP 13
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, abriu, nesta sexta-feira (2) em Cancún (México), a Mesa Redonda Setorial sobre Agricultura na COP 13, dizendo que “a perda de biodiversidade no planeta é algo que preocupa a todos, em especial aos agricultores, que tanto dependem de diversidade biológica para suas atividades”.
Maggi destacou ser “época de buscarmos integração e sinergias entre setores. Pensar de forma abrangente como se pode alimentar 9 bilhões de pessoas, até 2050, com qualidade nutricional sem aumentar a perda da biodiversidade mundial”. Ele acrescentou que, “apesar dos muitos avanços, temos a consciência de que a agricultura brasileira ainda tem muitos desafios a vencer. Por isso, viemos aqui para trocar conhecimentos”.
O ministro chamou a atenção sobre a importância do engajamento de todos. “Estamos num estágio em que cada setor da sociedade deve se engajar na proteção da biodiversidade e no seu uso sustentável, fazendo o que estiver ao alcance para o planeta atingir as Metas de Aichi”. As Metas de Aichi foram estabelecidas durante a (COP-10), na Província de Aichi (Japão), para o período de 2011 a 2020. O plano prevê ações concretas para deter a perda da biodiversidade planetária.
“Reafirmo que estamos aperfeiçoando as ações para a proteção da biodiversidade, de forma concreta, em todas as atividades da nossa agropecuária”, ressaltou.
A seguir, a íntegra do discurso do ministro Blairo Maggi:
“Boa noite, Senhoras e Senhores, distintos delegados,
É um grande prazer, em nome do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, me manifestar neste evento.
A perda de biodiversidade no planeta é algo que preocupa a todos, em especial aos agricultores, que tanto dependem de diversidade biológica para suas atividades.
Estamos num estágio em que cada setor da sociedade deve se engajar na proteção da biodiversidade e no seu uso sustentável, fazendo o que estiver ao alcance para o planeta atingir as Metas de Aichi.
Mas também é época de buscarmos integração e sinergias entre setores. Pensar de forma abrangente como se pode alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050com qualidade nutricional sem aumentar a perda da biodiversidade mundial.
O Brasil tem encarado este desafio de forma muito determinada. Nosso país é recordista mundial em áreas protegidas com 30% do seu território dedicados a unidades de conservação e a terras indígenas, que abrigam substancial diversidade biológica.
No Brasil, a fauna selvagem está integrada aos sistemas de produção, graças a práticas como exploração de pastagens nativas, proteção de mananciais hídricos, controle biológico, proibição da caça e melhoria de habitats.
Nesse momento estamos realizando grandes investimentos no aumento da produtividade das áreas já em uso. A intensificação sustentável em diversos sistemas produtivos já nos permite fazer uso eficiente dos recursos naturais, incluindo o solo, a água e as fontes renováveis de energia.
Apesar dos muitos avanços, temos a consciência de que a agricultura brasileira ainda tem muitos desafios a vencer. Por isso viemos aqui para trocar conhecimentos.
Uma das lições que podemos compartilhar é que vale a pena investir em tecnologia, em pesquisa, desenvolvimento e inovação. A experiência brasileira, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, é muito positiva.
O investimento na pesquisa agropecuária permitiu muitos avanços, entre ele s o de aumentar em 220% a produtividade de grãos no Brasil nos últimos 38 anos, o que permitiu poupar cerca de 150 milhões de hectares e reduzir a pressão sobre os nossos biomas. Isso é o resultado da tecnologia, a qual aprendemos a valorizar como solução para problemas complexos.
Outra lição que aprendemos é que vale a pena integrar a biodiversidade na produção agrícola. No Brasil, entre 20% e 80% das áreas das propriedades rurais, é de vegetação nativa, mantida por Lei para a preservação da biodiversidade. Chamamos isso de Reserva Legal.
As margens de rios e mananciais também são protegidas com vegetação nativa e chamamos isso de Área de Preservação Permanente.
Portanto, a nação brasileira optou por dedicar substancial parte de seu território para proteger a biodiversidade. A maioria dessas áreas têm grande potencial produtivo, não são desertos ou locais inóspitos. Mas, ainda assim, são mantidas inexploradas.
Ao contrário das áreas protegidas de muitos países, o sistema brasileiro de áreas protegidas proíbe a presença de cidades, de atividades industriais, de mineradoras ou agronegócios.
A legislação brasileira ainda prevê, no entorno das áreas preservadas, uma zona de amortecimento de até 10km, com diversas restrições para o uso das terras. É um desafio caro e difícil para o país manter 250 milhões de hectares protegidos, renunciando à sua exploração.
Assim, hoje temos no Brasil 61% do território com vegetação nativa, sendo que 11% desse total são preservados pelos próprios agricultores e pecuaristas em suas fazendas. Essas áreas ajudam a manter a biodiversidade nas propriedades privadas e a preservar as fontes de água, outro recurso natural muito importante para os agricultores.
Neste momento de intercâmbio de experiências, em que temos aprendido muito, aproveitamos para convidar nossos amigos de outros países para que conheçam nossa experiência sobre Reserva Legal e áreas de preservação nas fazendas.
Esperamos que essa experiência possa inspire outros países a adotar legislações similares para a conservação da água e a proteção da diversidade da fauna e da flora por meio de corredores ecológicos.
Por fim, reafirmo que estamos aperfeiçoando as ações para a proteção da biodiversidade, de forma concreta, em todas as atividades da nossa agropecuária.
Temos investido neste caminho e vamos continuar avançando nele. Esse é o desejo dos agricultores brasileiros. Convidamos a todos a também seguir neste caminho aprendendo juntos, integrando esforços.
Da mesma forma, gostaríamos que nossos agricultores e os sistemas produtivos brasileiros fossem reconhecidos pelo que representam para a preservação da biodiversidade e dos recursos naturais do planeta.
Nesse sentido, reiteramos a nossa posição de que as regras do comércio internacional sejam repensadas de forma a valorizar e a recompensar os países, que de forma concreta preservam e valorizam a sua biodiversidade e os serviços ambientais dela decorrentes.
Eu agradeço a sua atenção e desejo a todos produtivas discussões”.