A COVID-19 é pelo menos a sexta pandemia global de saúde desde a Grande Pandemia de Influenza de 1918, que infectou 500 milhões de pessoas (25% da população mundial da época) e matou 50 milhões de pessoas em todo o mundo
Todas as pandemias têm origem em micróbios transportados por animais, e as atividades humanas têm impulsionado e aumentado a frequência desse tipo de evento. Agora, o painel de especialistas em biodiversidade da ONU, o IPBES, está fazendo o seguinte alerta em seu mais recente relatório: a perda progressiva de biodiversidade e a relação dos humanos com outros animais pode conduzir a Terra a uma “Era das Pandemias”.
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“Não há grande mistério sobre a causa da pandemia da COVID-19, ou de qualquer pandemia moderna. As mesmas atividades humanas que impulsionam a mudança climática e a perda da biodiversidade também impulsionam o risco pandêmico através de seus impactos sobre nosso meio ambiente.”, afirma o zoólogo britânico Peter Daszak, que presidiu o workshop da ONU que deu origem ao relatório e está à frente da organização EcoHealth Alliance.
Para o pesquisador, um dos principais problemas é a forma como usamos a terra, incluindo a expansão e intensificação da agricultura e do comércio insustentável. “Essa produção e consumo perturbam a natureza e aumentam o contato entre a vida selvagem, a pecuária, os agentes patogênicos e as pessoas. Este é o caminho para as pandemias”, diz.
Estimativas sugerem que existam outros 1,7 milhões de vírus atualmente “não descobertos” em mamíferos e aves — dos quais até 850.000 poderiam ter a capacidade de infectar pessoas. A Floresta Amazônica, uma das regiões com a maior biodiversidade por metro quadrado no planeta, é apontada como uma das regiões com maior prevalência desses patógenos desconhecidos.
Prevenir é mais barato
O custo provável da COVID-19 foi estimado em 8-16 trilhões de dólares globalmente até julho de 2020. Outras estimativas sugerem que os custos só nos Estados Unidos podem chegar a 16 trilhões de dólares até o 4º trimestre de 2021. Os especialistas calculam que o custo da redução dos riscos para prevenir pandemias seja 100 vezes menor que o custo de responder a tais pandemias, “proporcionando fortes incentivos econômicos para uma mudança transformadora”.
O relatório aponta as seguintes medidas para prevenir ou mitigar com mais eficiências surtos pandêmicos:
- A criação de um órgão intergovernamental sobre prevenção de pandemias; metas globais que beneficiem pessoas, animais e o meio ambiente;
- Impostos ou taxas potenciais sobre o consumo de carne, produção animal e outras formas de atividades de alto risco pandêmico;
- Valorização do envolvimento e conhecimento dos Povos Indígenas e comunidades locais em programas de prevenção de pandemias;
- Institucionalização da abordagem “Uma Saúde” nos governos nacionais;
- Incorporação de avaliações de impacto na saúde de pandemias e doenças emergentes em grandes projetos de desenvolvimento e uso da terra,
- Reformular os critérios para ajuda financeira para atividades de uso da terra de modo que os benefícios e riscos para a biodiversidade e a saúde sejam levados em conta pelas instituições financeiras.
Segundo os especialistas que escreveram o relatório, as mesmas medidas que poderiam nos isolar dos piores impactos das pandemias, poderiam também proteger contra a perda da biodiversidade e a ruptura climática. E ainda segundo os autores, os pacotes de recuperação econômica pós-COVID-19 devem observar esses critérios.
“A esmagadora evidência científica aponta que temos uma capacidade crescente de prevenir pandemias, mas a maneira como estamos enfrentando-as agora ignora amplamente essa capacidade”, avalia Daszak. Para ele, as sociedades humanas ainda confiam nas tentativas de conter e controlar as doenças depois que elas surgem, através de vacinas e terapias.
“Podemos escapar da Era das Pandemias, mas isto requer um foco muito maior na prevenção, além da reação”, conclui o professor. “O fato de a atividade humana ter sido capaz de mudar tão fundamentalmente nosso ambiente natural também fornece provas convincentes de nosso poder de impulsionar a mudança necessária para reduzir o risco de futuras pandemias, ao mesmo tempo em que beneficia a conservação e a redução da mudança climática”.
Por Climatempo
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