Preço tabelado foi uma das concessões do governo para pôr fim à greve de caminhoneiros; gigantes como Cargill e Amaggi vão comprar caminhões
Para fugir da alta de custos gerada pelo tabelamento dos fretes, criado pelo governo para acabar com a greve dos caminhoneiros em maio, empresas buscam alternativas. Em alguns setores, o preço tabelado representa aumento de até 100% nos custos com transporte. Por isso, empresários planejam criar frotas própria de caminhões ou alugar veículos para reassumir o controle da logística.
Ainda não é possível dimensionar esse movimento, mas, a depender do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade do tabelamento no próximo dia 27, a tendência deve ganhar impulso.
“Há empresas estudando a compra de caminhões novos, outras estão alugando e um terceiro grupo está arrendando. Se o STF considerar o tabelamento constitucional, as companhias vão intensificar as compras e o aluguel para fugir do aumento de custos”, avalia Edeon Vaz Ferreira, diretor do Movimento Pró Logística de Mato Grosso.
Produtores de soja e milho estimam um custo extra de US$ 2,4 bilhões (cerca de R$ 9,3 bilhões) sobre os 118 milhões de toneladas que devem ser exportados este ano, diz a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec).
“Calculamos, por baixo, um custo adicional de US$ 20 (R$ 78) por tonelada. Há o risco de o Brasil deixar de ser o segundo maior exportador de milho do mundo por conta do aumento do frete”, diz Sergio Castanho Teixeira Mendes, diretor-geral da Anec.
A Amaggi, maior empresa nacional de comercialização de grãos, cogita comprar entre 300 e 500 veículos novos. Hoje, 100% da frota usada pela companhia são terceirizados. Cada veículo próprio representa um investimento de até R$ 600 mil. A Amaggi precisa de 5.000 caminhões para as movimentações envolvidas em suas operações. Em 2017, movimentou cerca de dez milhões de toneladas.
“Para os produtos que já haviam tido seu preço definido, o impacto financeiro (do aumento do frete) deverá ser bastante significativo”, estima o presidente executivo da Amaggi, Judiney Carvalho.
A Cargill, gigante do agronegócio, está orçando a compra de mil caminhões. Números da Fenabrave, associação que representa os revendedores de veículos, mostram aumento da venda de caminhões este ano, com a greve dos caminhoneiros em maio. Entre janeiro e julho foram vendidas 39.005 unidades, contra 29.981 no mesmo período de 2017.
A JBS, uma das líderes globais em alimentos, já decidiu comprar 360 caminhões para reforçar sua frota própria — que passa de mil veículos. Em nota, a companhia controlada pelos irmãos Batista explicou que a decisão faz parte de uma estratégia para reduzir “os impactos de custo causados pela aplicação do tabelamento do frete rodoviário”.
Dependendo do setor e da região, o tabelamento provocou alta nos custos entre 30% e 100%. Segundo Maurício Lima, especialista da consultoria Ilos, o setor de cimento é um dos que viram seu custo com frete dobrar.
“Para as cimenteiras, a frota própria pode valer a pena porque o transporte representa 31% do preço do produto. Outra alternativa é alugar caminhões com motoristas próprios ou contratar uma frota dedicada. Neste momento, as empresas ainda estão fazendo as contas. Além de a tabela da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ter problemas, o STF pode invalidar tudo. É difícil tomar decisão agora. Há uma insegurança muito grande”, disse Lima.
Já a Via Varejo — que reúne Casas Bahia e Pontofrio — busca outras saídas. Estabeleceu que fabricantes devem entregar mercadorias nos seus centros de distribuição mais afastados, sem passar por suas unidades de São Paulo e Rio, de onde os produtos eram transportados por terceirizados. E fez parceria com a Eu Entrego, rede de aplicativos que conecta entregadores independentes a empresas. O produto pode ser entregue de carro, moto, bicicleta ou a pé. Para isso, a Via Varejo transformou pelo menos 70 lojas em pequenos centros de distribuição, reduzindo a demanda por caminhões.
“Reduz custo, a chance de avarias e a entrega é mais rápida. É uma mudança que já havia começado e ajudou a contornar a greve”, diz Edgard Filho, diretor de operações logísticas da Via Varejo.
Fonte: Diário de Cuiabá – JOÃO SORIMA NETO