Prejuízo causado pela atividade tem feito produtores desistirem de aviários.
Produtores têm desistido de aviários, em Campo Verde, município a 139 km de Cuiabá, devido a escassez e o alto custo da alimentação das aves, que é a baseada em milho. A atividade se tornou incerta desde o ano passado e aqueles que decidiram continuar com a produção estão em alerta quanto ao futuro das granjas.
Um dos afetados pela crise na atividade foi o produtor rural José Manoel Marinho Trinanes, que após 22 anos trabalhando na criação de frangos, decidiu encerrar a atividade. Os aviários, que até 2015 abrigavam cerca de 32 mil aves, atualmente estão vazios. Um deles, inclusive, virou depósito de materiais do sítio. No outro, apenas 100 galinhas caipiras continuam sendo criadas para consumo da família.
“Os ganhos estavam sendo insuficientes para cobrir energia, motores que queimam e funcionários. Às vezes, tínhamos que tirar do nosso bolso. Estava dando prejuízo”, afirmou.
De acordo com o produtor, mesmo trabalhando no sistema integrado com a empresa que fornecia os animais e os encaminhava para o abate, era cobrado com frequência para fazer investimentos, o que acabou por complicar, ainda, mais a situação.
“Quando acabava de pagar um item, já tinha que fazer outros. Exigiam que mudasse uma coisa ou outra sempre, então, estávamos sempre devendo”, disse.
Atividade incerta
Segundo os produtores que continuam na atividade, o último semestre foi o mais crítico já enfrentado, principalmente devido a alimentação das aves. É o caso do produtor Hênio Stragliotto, que possui uma granja de ovos onde são criadas cerca de 1,7 milhão de galinhas e precisa, mensalmente, de quase 200 toneladas de ração por mês para alimentação dos animais.
O criador conta que costumava comprar diretamente de agricultores da região, uma vez que, no concentrado oferecido às linhas, 62% são de milho e ele possui capacidade de armazenagem na granja. Porém, o preço elevado e a falta do produto por perto fez com que ele buscasse outras alternativas e até mesmo arriscasse ficar sem o milho.
“O preço que vinha atuando no mercado livre, oferta e procura, não dava mais. Comprar uma saca de milho por mais de R$ 40 e transformar em ovos para o consumidor, hoje, era impossível.
Tentei com um cunhado do Paraná, para ver se conseguia milho por lá, tentamos ver o custo para conseguir o milho do Paraguai, mas a logística é impossível. Ficou-se bem vulnerável. Risco de, daqui a 10 dias, não saber se tem alimentação ou não”, afirmou.
De acordo com o produtor, uma das saídas encontradas foi garantir o milho por meio de leilões realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No entanto, nem sempre o valor pago pela saca compensou, principalmente devido ao frete.
“Num primeiro momento, poderia ter o estoque necessário, mas não havia condições de comprar. Porque a procura era muita e as pessoas que estão mais próximas se beneficiam, ganham o frete. Então, eles avançam mais na compra. A saca chegava aqui a R$ 32, R$ 33, então era melhor comprar no mercado aberto”, disse.
O que preocupa ainda mais o dono da granja, que produz cerca de 33 milhões de ovos por mês, é que a tendência para os próximos meses é de queda do produtor nos supermercados. Com isso, ele deve receber menos pela produção que sai da granja, no entanto continuará pagando mais pelo milho que serve de alimentação para as galinhas.
“Setembro, outubro e novembro, todos os anos, tem a tendência de ter esse ciclo, a oferta é um pouco é maior e cai o preço. Mas os custos, pelo contrário, ficam estabilizados, firmes”, disse.
Fonte: G1