Fazenda do Tocantins comprova sistema inovador de formação de pastagens longevas e produtivas, respeitando as características de cada área.
Sementes de qualidade no galpão, prontas para a semeadura – como plantá-las? Para este Especial de Pastagens dedicado às tecnologias forrageiras, DBO foi a campo pesquisar. Deparou- -se não exatamente com tecnologias de última geração, mas com um conceito inovador e, de certa forma, revolucionário: os protocolos “personalizados” para formação ou reforma de pastagens.
Cada situação encontrada no campo – das mais desafiadoras (áreas praguejadas, terrenos acidentados, solos úmidos) às mais simples – demanda práticas agrícolas específicas. Como nos protocolos sanitários, técnicos especializados listam, em ordem cronológica, as operações adequadas ao plantio de cada área.
Ao invés de uma “receita universal”, indicam tratamentos “sob medida”. O que almejam com isso? Garantir longevidade às pastagens, que no Brasil, infelizmente, ainda têm vida útil muito curta. Segundo o professor Moacyr Corsi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), as gramíneas forrageiras se mantêm produtivas por apenas sete anos, em média.
No Norte, devido à maior pluviosidade, que favorece o crescimento de invasoras, degradam em cinco. “O pecuarista mal consegue amortizar o investimento que fez na formação do pasto e já precisa se preparar para uma reforma”, diz Corsi.
Somente uma boa formação pode quebrar esse círculo vicioso e deficitário, conferindo longevidade à pastagem e rentabilidade à produção. Corsi e seu colega Adilson Aguiar, professor das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), têm aplicado esse conceito em várias propriedades rurais do País, dentre elas a Fazenda Terra Grande, localizada em Bernardo Sayão, na Bacia Tocantins-Araguaia, 340 km ao norte de Palmas, capital tocantinense. Com um projeto de intensificação em andamento desde 2012, ela utiliza cinco protocolos de reforma, quatro destinados à erradicação da mais temível invasora do norte brasileiro: o capim “navalhão”, também conhecido como “cabeçudo”.
Inimigo poderoso
A propriedade, de 8.800 hectares, pertence ao Grupo Terra Grande, presidido pelo empresário goian André Alencastro Curado, um dos maiores produtores de touros Nelore PO do País (veja ao lado). Por ter reserva legal externa, a fazenda é quase toda formada com pastagens (8.000 ha), mas tinha 2.400 ha infestados por capim navalhão, que reduz a capacidade de suporte das pastagens em pelo menos 30%. Por ter baixo valor nutricional, ele é rejeitado pelo gado, competindo livremente com a gramínea cultivada.
Qualquer projeto visando ao aumento da taxa de lotação e, consequentemente, da produção de touros para venda, teria de passar pela reforma das áreas infestadas. Tarefa nada fácil, pois o navalhão é invasora renitente, que resiste aos métodos tradicionais de controle, como se
verá a seguir. Seu nome deve-se à textura das folhas, que são mais duras, ásperas ao toque e capazes de cortar facilmente os dedos da mão quando passados de cima para baixo.
Em virtude do tamanho da fazenda e, consequentemente, das diferenças observadas em suas pastagens (relevo, tipo de solo, gramínea instalada, estágio de degradação etc), foi necessário diversificar as estratégias de reforma. De 2012 para cá, a fazenda funcionou
como uma espécie de “laboratório a céu aberto”.
Sob orientação de Corsi e Aguiar, experimentou mais de 20 protocolos. Alguns foram validados e até aprimorados; outros acabaram sendo descartados. O saldo, no entanto, é muito positivo. Em quatro anos, a fazenda conseguiu reformar 1.800 ha, reduzindo consideravelmente a infestação de navalhão. A taxa de lotação acompanhou a melhoria na oferta forrageira, passando de 0,7 UA/ha para 1,2 UA/ha, um aumento de 71%.
Nos piquetes intensificados (1.300 ha), onde são feitas quatro adubações por ano, a ocupação é de 3 UA/ha, sob pastejo rotacionado. Apesar de terem sido elaborados para a Fazenda Terra Grande, esses protocolos podem servir como referência para situações similares no Brasil, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte, onde o navalhão se faz onipresente, trazendo grandes prejuízos.
Durante o Circuito Expocorte, em Rondônia, no mês de setembro, Adilson Aguiar foi bombardeado por perguntas relativas ao controle da invasora. Um pecuarista rondoniense, Luiz Carlos Lyra, decidiu transformá-lo em silagem, após várias tentativas frustradas de combate.
O capim tem predileção por solos úmidos, comuns nas áreas de baixada (várzeas, brejos, locais próximos a cursos d`água), onde o verde escuro de suas folhas pontiagudas se destaca mais facilmente no meio da pastagem. Não existem estatísticas sobre a área infestada no País, mas Aguiar afirma que essa gramínea é encontrada em todo o bioma amazônico com forte exploração pecuária, desde Rondônia, Acre e Pará, até o norte do Mato Gro sso, norte do Tocantins e oeste do Maranhão. “Como é nativo, ele ocorre espontaneamente”, diz o professor.
Fonte: DBO 433