A semana no mercado internacional da soja foi marcada por uma intensa reviravolta nos preços, muita volatilidade e melhores condições de clima para a conclusão da safra no Meio-Oeste dos Estados Unidos. Os futuros da oleaginosa, no acumulado semanal, acabaram, assim, perdendo mais de 5 pontos entre as posições mais negociadas
O vencimento novembro – que é o mais negociado e a principal referência para a safra norte-americana – cedeu 5,55%, saindo dos US$ 10,13 da última sexta-feira (28) para US$ 9,56 no pregão desta sexta (4).
O movimento mais intenso de baixas foi iniciado da segunda (31) para a terça-feira (1), depois que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe um aumento de 2 pontos percentuais no índice de lavouras de soja em boas ou excelentes condições.
Esses números chegaram ao mesmo tempo em que chuvas foram confirmadas em algumas regiões produtoras de soja e milho no país que vinham sofrendo com o tempo seco e muito quente nas semanas anteriores. A reação do mercado foi imediata e o recuo dos preços também.
A nova safra de soja dos Estados Unidos ainda precisa, aproximadamente, de mais 20 dias para se concluir e, mesmo com as previsões mostrando a possibilidade de mais algumas chuvas para os próximos dias, ainda há áreas em que os efeitos da seca preocupam.
“É um cenário de seca, não podemos descartar isso. Apesar de os mapas estarem mostrando algumas chuvas, ainda assim, no atual momento, o cenário não é agradável para o produtor norte-americano, principalmente ao oeste do cinturão, especialmente em Iowa e nas Dakotas”, diz o analista de mercado Matheus Pereira, da AgResource Brasil, direto de Chicago em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Atualmente, ainda segundo o especialista, cerca de 80% da safra nacional já estava em fase de florescimento e, metade da safra, possivelmente, está em fase de enchimento de grãos. “Este é um momento delicado e a safra ainda sente a falta de chuvas observadas em julho. Ainda há áreas continuam com essa degradação da produtividade, que parece continuar agora em agosto. Ainda temos um ‘longo’ caminho pela frente”, explica.
Dessa forma, para a AgResource, essas baixas intensas observadas nos últimos dias reflete um momento de intensa ansiedade do mercado, típica desse momento intenso de pico do mercado climático americano. “Temos que ter calma porque as chuvas dos próximos 15 dias não abrangem a área do cinturão”.
Na próxima semana, a situação não deverá ser diferente. Os analistas de mercado ainda esperam mais volatilidade, afinal, além do clima nos Estados Unidos, o mercado internacional recebe também o novo reporte mensal de oferta e demanda do USDA na quinta-feira, 10 de agosto.
E as expectativas da consultoria é de que o boletim traga números altistas para a soja, como a redução da produtividade norte-americana, além de uma alta nas exportações da safra 2016/17, estimada pela empresa em uma alta de 650 mil a 750 mil toneladas, e também uma redução dos estoques finais. Confirmados números assim, o mercado em Chicago teria, portanto, espaço para uma recuperação das cotações em Chicago.
“Acreditamos aqui na AgResource que o mercado ainda vai recuperar, principalmente, pelo próximo relatório do USDA. Temos que ter paciência, o produtor tem que deixar o mercado se estabilizar. E o produtor vai perceber que essas chuvas não estão chegando no cinturão e não estamos em ‘tom’ de recuperação de safra”, explica Pereira.
Semana no Brasil
No Brasil, as baixas também foram bastante intensas acompanhando a despencada das cotações na Bolsa de Chicago. Ao lado desse movimento no mercado internacional, as cotações foram ainda pressionadas pela quinta semana consecutiva de recuo do dólar frente ao real. A moeda americana terminou a semana com R$ 3,1254 e baixa semanal de 0,30%.
Assim, as principais praças de comercialização pesquisadas pelo Notícias Agrícolas registraram baixas de até 5,66%, como foi o caso de Sorriso, em Mato Grosso, onde a saca voltou aos R$ 50,00. Nos portos, as referências voltaram ao patamar dos R$ 70,00 por saca para a soja disponível e as quedas acumuladas também foram severas, passando dos 4%.
Os negócios, portanto, foram bastante pontuais e de pouca expressão, com os vendedores evitando vir a mercado diante desses patamares. E para analistas e consultores de mercado, essa é, nesse momento em que a instabilidade das cotações é elevada, a postura mais acertada entre os sojicultores.
“Agora é momento para o produtor rural ter paciência. Vamos passar por essas altas e baixas do mercado, estamos passando por um momento difícil, mas as projeções são otimistas. Então, o negócio é se afastar um pouco e não ficar espantado ou ansioso”, orienta Matheus Pereira.
De acordo com números da consultoria Safras & Mercado, 74% da safra 2016/17 do Brasil já foi comercializada até este momento, ou, aproximadamente, 83,77 milhões de toneladas. O volume é menor em relação ao ano anterior, quando eram 86% e fica também abaixo da média dos últimos anos de 84%.
Já sobre a safra nova, a Safras estima uma comercialização na casa de 7,6%, contra a média para o período de 15%.
Fonte: Notícias Agrícolas