Nesta terça executivos do Minerva se reúnem com autoridades de Mato Grosso para informar os planos de reativação
As delações dos irmãos Batista – Wesley e Joesley – donos da JBS/Friboi, controlada pela holding J&F, estão levando os principais concorrentes do grupo no Brasil a considerar a reabertura de unidades no Centro-Oeste, sobretudo em Mato Grosso, onde se concentra o maior abate de gado no País. O Estado apurou que o Minerva, terceiro maior frigorífico do Brasil, vai reativar em meados de julho a unidade de Mirassol D’ Oeste, no MT, que estava parada desde 2015. O Marfrig, segundo fontes, também estuda reaberturas.
Hoje, executivos do Minerva – que na semana passada anunciou a compra dos negócios da América do Sul da JBS – vão se reunir com autoridades do Estado de Mato Grosso para informar os planos de reativação. A unidade vai precisar de alguns reparos e contratações, mas deverá voltar a operar nas próximas semanas. Dona também de unidades de abate no Estado, a Marfrig, vai avaliar em julho, se abrirá a operação de Nova Xavantina, que fazia parte de uma massa falida e está fechada.
JBS, Marfrig e Minerva participaram nos últimos anos de um movimento de concentração do setor. O JBS e o Marfrig tiveram apoio do BNDES para fazer aquisições dentro e fora do Brasil. O Minerva ficou de fora desse boom, mas também fez aquisições no País e passou a olhar ativos na América do Sul.
No fim de 2015, o fundo Salic, da Arábia Saudita, comprou 20% do capital do frigorífico brasileiro, o que possibilitou maior musculatura para a companhia avançar no País. O grupo chegou a anunciar no ano passado a compra de um concorrente, o Frisa, mas a operação não foi adiante.
Crise – A crise no setor de carnes com as delações dos irmãos Batista tem deixado vários pecuaristas, que fecharam contratos para entrega de gado para o JBS, preocupados. Maior frigorífico do País, o JBS é responsável por 20% do abate de gado no Brasil, segundo o pecuarista Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). “Só em Mato Grosso, abatem cerca de 50% do gado”, disse Camargo Neto.
A turbulência não afeta somente os pecuaristas que entregam gado só para o JBS. Desde as delações, os preços da arroba do boi têm caído fortemente.
Segundo Luciano Vacari, diretor-executivo da Associação de Criadores do Mato Grosso (Acrimat), os preços do gado recuaram de R$ 130 a arroba do boi para até R$ 115 no Mato Grosso. “Imagina a situação de um produtor de gado que se prepara de 24 a 30 meses antes para engordar o gado para vender para o frigorífico. De repente, tem essa situação”, disse Vacari. A mudança de política do JBS de não pagar mais à vista também afetou os pecuaristas. “Deixei de vender para o grupo”, disse o pecuarista Murilo Abrahão.
Segundo ele, frigoríficos concorrentes não conseguem comprar a totalidade do gado que os pecuaristas deixaram de enviar para o JBS, mas muitos estão olhando oportunidades no Estado de Mato Grosso por causa dessa crise. “Não há manobra nem espaço para os frigoríficos concorrentes assumirem todo o vácuo deixado pela JBS nessa crise, mas os concorrentes estão se movimentando neste sentido”, disse.
Outro lado – Em nota, a JBS informou que padronizou o processo de compra de gado no Brasil, com pagamento no prazo de 30 dias, como já ocorria em 97% das praças onde atuava. “Todas as unidades da empresa seguem operando normalmente”, afirmou a empresa.
Procurados, porta-vozes do Marfrig e Minerva não foram encontrados ontem para comentar a reativação da unidade em Mato Grosso.
Fonte: Estadão Conteúdo