O dito “é na crise que surgem as oportunidades”, por mais clichê que possa parecer, tem um significado ainda mais especial no setor da pecuária de corte
Conhecida por possuir um ciclo mercadológico de aproximadamente sete anos, entre alta e baixa, a atividade passa por um momento de instabilidade, com queda no preço da arroba e do bezerro. Para uns, momento exato de investir.
Devido às incertezas do mercado e desvalorização do boi gordo e do bezerro, muitos pecuaristas resolveram enviar as fêmeas para o abate, na intenção de reduzir os custos na propriedade. O consultor técnico e economista da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Amado de Oliveira, explica que a comercialização de fêmeas é natural e se torna opção de renda para o produtor no período de crise.
“Com as contas apertadas, o pecuarista vê na fêmea oportunidade de redução de custa. Porém, aqueles que conseguem manter suas reprodutoras se tornam potenciais fornecedores quando a demanda por animais se aquecer”, afirma o economista.
Levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta a maior participação de fêmeas nos abates desde 2014, com 48% do total registrado no primeiro semestre.
Isso, no ciclo da pecuária, representa o início da reversão do mercado. Ou seja, quando os preços da arroba e do bezerro caem muito, os pecuaristas abatem as fêmeas e, para a próxima safra, vai reduzir o número de bezerros disponíveis, depois a oferta de bois e, consequentemente aumenta o preço da arroba.
A pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), Mariane Crespolini, explica que no momento em que de agora até o desmame dos bezerros que vão nascer calcula-se cerca de um ano e meio, período em que a demanda por bezerros estará superaquecida justamente pela falta de animais. “Assim, quem segurar a fêmea para emprenhar no começo das águas estará investindo no mercado futuro”.
Outra oportunidade neste momento, segundo Crespolini, é para a reforma de pastagem. Com a redução dos preços das sementes em decorrência do favorecimento climático, o custo para recuperação caiu.
E foi justamente isso que o pecuarista de Pontes e Lacerda, Luciomar Machado, resolver fazer. Com a queda no mercado do boi gordo, ele reduziu o custo que tinha com o arrendamento de áreas e aplicou o dinheiro na aquisição de insumos para o pasto. Além disso, ele também está contratando crédito para auxiliar nos investimentos.
“Meu objetivo é garantir a oferta de animais quando o mercado estiver em alta. Para isso, vou integrar agricultura e produzir grãos para suplementação alimentar dos bois e recuperar terra degradada. Assim, em 2019 estarei com a produção em alta”, afirma o produtor.
Fonte: Acrimat