A dívida pública federal do Brasil cresceu 0,98 por cento em agosto sobre julho, a 3,786 trilhões de reais, puxada tanto pelo avanço da dívida interna, quanto pelo crescimento de quase 10 por cento da dívida externa, num mês marcado pela alta do dólar
Com isso, a dívida enfim entrou no intervalo de referência estipulado no Plano Anual de Financiamento (PAF), de um estoque entre 3,78 trilhões a 3,98 trilhões de reais em 2018.
No período, a dívida pública mobiliária interna teve alta de 0,65 por cento, a 3,631 trilhões de reais, em função da apropriação positiva de juros de 28,92 bilhões de reais e um resgate líquido de 5,56 bilhões de reais.
Por sua vez, a dívida externa saltou 9,53 por cento ante julho, a 154,75 bilhões de reais, afetada sobretudo pela valorização da moeda norte-americana.
Em agosto, o dólar acumulou alta de 8,46 por cento – a maior desde setembro de 2015 -, embalado por incertezas ligadas à corrida presidencial e à capacidade de o próximo presidente eleito implementar reformas econômicas para reequilibrar as contas públicas.
Em coletiva de imprensa, o coordenador-geral de Planejamento Estratégico da Dívida Pública, Luiz Fernando Alves, ponderou que o risco do dólar para a gestão da dívida é pequeno, já que “parcela bem pequena da dívida é exposta ao câmbio”.
“Em geral o Tesouro está protegido disso porque já temos os dólares comprados”, afirmou. “Hoje temos estoque de dólares para pagar tudo que vence em 2018 e parcela do que vence em 2019.”
Reagindo ao cenário de volatilidade, o Tesouro divulgou no início de setembro que emitiria mais títulos que flutuam com a Selic, as chamadas LFTs, do que o inicialmente fixado no PAF. Com isso, a fatia estabelecida como meta para a participação desses títulos na dívida pública federal passou a ser de 33 a 37 por cento no ano, ante 31 a 35 por cento antes.
As bandas para os demais papéis, bem como para o estoque total da dívida, permaneceram inalteradas.
Em agosto, as LFTs viram sua representatividade sobre a dívida total avançar a 34,95 por cento, contra 33,64 por cento no mês anterior, quase no limite da banda antiga que valia para os títulos. Com isso, continuaram com o maior peso na dívida total, dianteira que já haviam assumido em julho.
Esses papéis pós-fixados são mais demandados por investidores quando há percepção de aumento do risco, sentimento que vem se intensificando diante da imprevisibilidade que ronda o quadro econômico brasileiro dos próximos anos.
Esses títulos tiram previsibilidade para a dívida, já que flutuam com os juros. Por isso, o governo busca diminuir sua representatividade no longo prazo a 20 por cento.
Em agosto, os títulos prefixados também subiram a 33,19 por cento do total, ante 32,82 por cento em julho e meta de 32 a 36 por cento no ano.
Já os papéis indexados à inflação responderam por 27,54 por cento da dívida total, abaixo do patamar de 29,60 por cento do mês anterior, sendo que a referência para o ano é de 27 a 31 por cento.
A participação dos investidores estrangeiros na dívida mobiliária interna caiu a 11,92 por cento em agosto, ante 12,57 por cento em julho, apontou ainda o Tesouro.
O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, avaliou que o movimento se deu na esteira do quadro de maior aversão a risco tanto pelos motivos domésticos, notadamente ligados às eleições, tanto por desdobramentos externos, citando guerra comercial e problemas na Turquia e Argentina, que pioraram a leitura para mercados emergentes de maneira geral.
Vital afirmou nesta segunda-feira que o Tesouro tem visto em setembro níveis menores de volatilidade e tem ajustado colocações e tamanhos dos lotes de títulos públicos às condições de mercado.
A jornalistas, ele também estimou que o percentual de rolagem da dívida neste ano deve ficar um pouco inferior a 100 por cento em 2018, mas disse não ter projeções mais precisas a respeito.
No início do mês, o Tesouro já havia divulgado que poderia reduzir a oferta global de títulos no ano, o que implicaria menor rolagem da dívida. À época, alegou que possuía um colchão de liquidez que lhe dava flexibilidade para optar pela estratégia em momentos de maior turbulência ou de custos um pouco mais altos.
Por Marcela Ayres
Fonte: Reuters