Com um processo inovador, Startup tenta recriar mesmas propriedades da Terra Preta da Amazônia, que é considerado o melhor solo do mundo. “São 100 toneladas de merda por dia! É verdadeiramente uma empresa de merda. E não uma merda de empresa“, brinca o CEO da Bioativa
Durante o Road-Show MT 2023, jornalistas especializados em agronegócio de vários estados brasileiros conheceram de perto exemplos de sucesso da produção agropecuária de Mato Grosso. Dentre estas visitas, uma Startup está revolucionando o mercado de adubos orgânicos. Aperte o play e confira!
Agricultura Bioativa Ambiental, uma empresa de “merda”
No coração do Brasil, na capital do maior estado produtor do país, em Cuiabá, nasceu uma empresa que está revolucionando o mercado de reciclagem. A Agricultura Bioativa Ambiental encontrou uma forma sustentável e inovadora de reaproveitar o que normalmente é descartado como lixo. Lá, resíduos orgânicos viram adubos de alta qualidade para a agricultura e pecuária.
Enquanto o lixo se acumula em aterros sanitários, a startup Bioativa vai na contramão do desperdício. Lá, cascas, sobras de colheita, dejetos de animais e outros resíduos orgânicos são transformados em fertilizantes de excelente qualidade. “Recebemos 100 toneladas diárias de material que iria parar em lixões e aterros. Além de mitigar o impacto ambiental na emissão de metano, ainda podemos gerar créditos de carbono.”, comemora o engenheiro agrônomo Paulo Teodoro, CEO da Bioativa.
Os alarmantes números do lixo no Brasil
Com uma população estimada de 218 milhões de habitantes, o Brasil produz cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos anualmente. E deste montante, cada brasileiro produz uma média de 343 kg de lixo por ano, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe. Agora pasmem, apenas 4% recebe algum tipo de reciclagem no país. É muito lixo produzido e acumulado.
Vale destacar que em 2022, com a retomada das atividades após a pandemia, o descarte de materiais aumentou ainda mais. Resolver esse problema se tornou questão de sobrevivência para o planeta. E justamente pensando nisso que a Bioativa resolveu transformar problemas ambientais em soluções criativas. “Observamos grandes oportunidades no reuso de subprodutos agroindustriais antes jogados fora“, explica Teodoro.
Compostagem: da matéria orgânica ao adubo premium
Segundo o engenheiro agrônomo, a empresa aposta no mix de compostagem aeróbia e anaeróbia, um processo ecologicamente responsável. “Ao invés de gerar metano igual nos lixões, produzimos um composto rico para os agricultores”, detalha Teodoro, ao mostrar empolgado o trabalho realizado pela empresa. “Toda essa matéria-prima recolhida passa pelo processo de compostagem aeróbia, onde é decomposta por micro-organismos sob condições controladas“. É um processo 100% ecológico, que agrega valor a algo que antes era simplesmente jogado fora. “Quanto mais você investe no teu solo, mais a natureza te devolve com rentabilidade“, completa.
O resultado do processo é a Terra Bioativa, um adubo orgânico-mineral premium para a pastagem e agricultura. “Entregamos um produto de excelência e que dá lucro para os produtores rurais.”, afirma o empresário. Conforme pesquisas realizadas pela Startup, a produção de pastagem pode aumentar em até 25% com aplicação correta desse tipo de adubo.
Criatividade inspirada na natureza e na mala de rodinhas
O conceito “mala de rodinhas” apresentado pelo CEO guia os produtos da empresa, que busca associar tecnologias já existentes de forma inovadora. “A roda foi criada na Mesopotâmia, aproximadamente 4500 A.C, a mala pelos egípcios, mas colocar a roda na mala data de 1970 patenteada pelo americano Bernard Sadow.“, exemplifica Paulo ao fazer uma analogia com o processo criativo implantado na empresa.
E como podemos perceber, assim como a mala ganhou mobilidade com as rodas, a Bioativa encontrou novas utilidades para técnicas disponíveis. Não se trata de inventar do zero, mas combinar soluções já consolidadas de maneira criativa, gerando produtos disruptivos. É esse olhar inovador sobre o que já existe que move a Startup.
Biochar e a Terra Preta da Amazônia
A Bioativa preza por processos em ciclo fechado, transformando materiais normalmente desperdiçados em produtos úteis. Foi assim que surgiu o interesse dos fundadores pelo Biochar. “Vendo o desperdício de madeira no campo de eucalipto após a colheita, se depararam com tecnologias para a produção de carvão vegetal visando uso agrícola, tentando mimetizar a Terra Preta da Amazônia“, conta Paulo Teodoro.
O termo Biochar é a união das palavras em inglês biomass (biomassa) e charcoal (carvão), e identifica um material rico em carbono (biocarvão) obtido por um processo de conversão térmica da biomassa de origem vegetal ou animal, na ausência ou em baixas quantidades de oxigênio.
Inspirada nesse legado de sustentabilidade, a empresa encontrou no Biochar mais uma forma de agregar valor a um material antes negligenciado. A Terra Preta da Amazônia é considerada a melhor terra do mundo e a startup tenta recriar as mesmas propriedades deste tipo de solo. “Essa terra fértil da Amazônia foi criada pelo homem, pelos ameríndios, que depositavam matéria orgânica e carvão vegetal em valas de cultivo. Também é um solo ‘Fabricado’ pelos primeiros habitantes das américas.“, compara Paulo.
Uma curiosidade interessante é que produto resultante no processo de compostagem praticamente não tem odores e nem atrai moscas ou insetos, como costumamos ver em aterros convencionais. O engenheiro agrônomo ainda complementa sobre a rentabilidade no processo “Com o processo de compostagem que desenvolvemos aqui nós evitamos a emissão de metano. E para cada tonelada de material que nós recebemos, geramos 0,9 toneladas de crédito de carbono. Agora quando eu pego esse material e transformo em Biochar: para cada tonelada de Biochar que eu processo, eu gero aproximadamente 3 toneladas de crédito de carbono, além de um fertilizante de excepcional qualidade“, avalia Teodoro.
Infraestrutura sustentável
A Bioativa também capricha na tecnologia para garantir sustentabilidade em todos os processos. Até a água da chuva é aproveitada na fabricação dos fertilizantes. “Temos estações definidas de seca e de chuva. Então, coletamos a água no período chuvoso para usar na produção”, explica Teodoro ao demonstrar um dos tanques escavados para coleta de chuvas.
Outro destaque são os dois pátios de compostagem, devidamente licenciados e com capacidade para receber até 530 toneladas de resíduos por dia. Com isso, a Bioativa prova que o agronegócio pode liderar a destinação inteligente de resíduos, gerando renda e protegendo o meio ambiente de forma simultânea.
Transformar em fertilizante bioativado o que antes era descartado como lixo, une sustentabilidade e prosperidade no campo. Essa sim é uma parceria genuína entre agro e natureza.
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Por Vicente Delgado – AGRONEWS®