Nos últimos anos, Mato Grosso registrou um aumento no número de pessoas diagnosticadas com hanseníase. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT), este crescimento se deve à intensificação de ações voltadas para o diagnóstico da doença, colocadas em prática por meio do Plano Estratégico de Enfrentamento da Hanseníase.
Tido como o Estado mais endêmico do país – situação acarretada principalmente pelo perfil das atividades econômicas exercidas e pelo intenso fluxo migratório de pessoas –, Mato Grosso tem como prioridade a capacitação de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Há uma escolha estratégica, por parte do Governo do Estado, pelo diagnóstico precoce da doença e pela execução do Plano Estratégico de Enfrentamento da Hanseníase. Neste cenário, Mato Grosso faz um grande esforço junto à atenção primária, com um trabalho efetivo de qualificação das equipes de saúde”, explicou o secretário de Saúde, Gilberto Figueiredo.
Dados da SES-MT apontam que, em 2018, o Estado registrou uma média de 136,5 novos casos da doença para cada 100.000 habitantes. Isto é, no ano anterior, foram diagnosticadas 4.700 pessoas com hanseníase em Mato Grosso. Em 2017, foram notificados 105,2 casos a cada 100.000 habitantes; em 2016, a média foi de 80,6.
Apesar dos números crescentes, a pesquisa evidencia que o Estado está entre aqueles que registram as menores taxas de pessoas com incapacidades físicas ocasionadas pela doença – fator que indica que os diagnósticos estão sendo majoritariamente realizados em tempo oportuno, antes do surgimento de sequelas.
“A busca por pacientes que possivelmente estão contaminados deve ser uma iniciativa de interesse nacional. Muitas pessoas podem, neste momento, transmitir a doença sem nem sequer saber que estão contaminadas”, acrescentou o secretário.
Nesse contexto, a gestão estadual trabalha na atualização do Plano Estratégico, que leva em consideração as seguintes diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS): a redução de casos em crianças, a redução de casos que acarretam alguma incapacidade física e a extinção do preconceito em relação à doença.
“É muito positivo o fato de que Mato Grosso assume a alta prevalência em hanseníase. Assumir a existência de um problema é o primeiro passo para enfrentá-lo. A hanseníase ainda é uma doença negligenciada pela sociedade, mas Mato Grosso está fazendo o dever de casa do diagnóstico precoce e vem investindo muito em capacitações; nos últimos anos, temos um número superior a 1.800 profissionais de Saúde capacitados”, pontuou a coordenadora de Atenção às Doenças Crônicas da SES-MT, Ana Carolina Landgraf.
A área técnica do Programa Estadual de Controle da Hanseníase ainda ressalta que a principal estratégia de controle da hanseníase é o exame dos contatos intradomiciliares, que consiste na avaliação de todas as pessoas que convivem ou conviveram com o doente. Estes contatos precisam ser reavaliados por cinco anos, visto que podem estar assintomáticos no momento da primeira avaliação. Com o tratamento de todos os comunicantes, o circuito de transmissão da doença é interrompido.
Diagnóstico
A hanseníase é uma doença crônica infecciosa causada pela bactéria mycobacterium leprae, que se multiplica lentamente e pode levar de cinco a dez anos para emitir os primeiros sinais e sintomas. A doença afeta principalmente os nervos periféricos e está associada às lesões na pele, como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, ressecamento e perda de sensibilidade.
Para a realização do exame clínico, é aconselhada a ida à Unidade Básica de Saúde mais próxima da residência do cidadão. “Como é uma doença de evolução crônica, os primeiros sinais e sintomas demoram para aparecer. Caso a pessoa não acesse o SUS, é aconselhado que ela faça a provocação [sobre hanseníase] ao médico da rede particular”, orientou Ana Carolina Landgraf.
Apoio
O Governo Federal disponibilizou uma rede de apoiadores voltados para o auxílio estratégico nos Estados e municípios mais endêmicos do país. O projeto tem a duração inicial de 12 meses e contempla Mato Grosso, Goiás, Pará, Bahia, Piauí e Maranhão.
Raissa Alencar, apoiadora do programa em Mato Grosso, já trabalha junto das gestões estadual e municipais. “Foi enviado um apoiador para cada Estado e nós trabalhamos como apoio nas ações de hanseníase e temos algumas tarefas específicas. Exercemos um papel complementar”.
Capacitação
A SES-MT realizará, nos dias 9, 10 e 11 de setembro, o 1º Encontro Mato-grossense de Vigilância e Atenção Especializada em Hanseníase e Manejo Clínico Pediátrico da Tuberculose. O evento ocorrerá das 8h às 18h, no auditório Licínio Monteiro, da Assembleia Legislativa, em Cuiabá.
Nos dias 9 e 10, será abordado exclusivamente o tema hanseníase. A discussão será aberta para profissionais do SUS que atuam em ambulatórios de atenção especializada e técnicos dos Escritórios Regionais de Saúde do Estado. Além disso, vai ser analisada a possibilidade de ampliar o número de Ambulatórios de Atenção Especializada Regionalizados no Estado (AAER), visto que, atualmente, Mato Grosso conta com seis unidades.