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Rebanho de búfalos no Paraná diminuiu nos últimos 20 anos, mas espécie traz vantagens na produção de leite e de carne
O pecuarista Luiz Carlos Chimin Claudino olha, orgulhoso, para o seu rebanho de búfalos, que mantém em uma propriedade em Morretes, no Litoral do Paraná. Ressalta o porte vigoroso dos animais, de pelagem preta e chifres em formato de caracol. São 100 matrizes – das quais 30 estão em lactação – e três touros da raça Murrah e puros de origem, com certificação na Associação Brasileira dos Criadores de Búfalo (ABCB). Apesar de se empolgar ao falar dos animais, Chimin está na contramão de um movimento.
Ao longo dos últimos 20 anos, o rebanho paranaense desta espécie encolheu em um terço, para 35,4 mil cabeças. A valorização dos derivados de leite de búfala, no entanto, abre boas perspectivas para a atividade.
Hoje, o negócio de Chimin está voltado à produção de matrizes e reprodutores, que são vendidos a criadores do interior do Paraná e de São Paulo. A intenção do pecuarista, por outro lado, é entrar de vez no mercado de lácteos. Ele já mantém uma sala de ordenha mecânica e, em anexo, construiu uma queijaria, de olho na fabricação de queijo frescal e muçarela. O objetivo é conseguir, ainda neste ano, o licenciamento para começar a produção dos derivados em escala contínua. Por enquanto, os queijos são produzidos de forma pontual, destinados ao consumo familiar e de amigos.
“Diferentemente do que se pensa, o búfalo é um animal dócil, amigável e fácil de trabalhar. Há um movimento de se voltar a apostar nos búfalos em todo o Brasil”, diz Chimin. “O queijo muçarela de búfala é um produto bastante valorizado. Com a queijaria regularizada, temos condições de produzir 15 toneladas de queijos por ano. Mercado há, pois o Paraná só consome muçarela de búfala que vem de São Paulo, por falta de escala local”, aponta.
Cenário paranaense
Citada por Chimin, a falta de escala é o principal entrave à atividade no Paraná. Para justificar a operação de um laticínio, é necessária a oferta de leite em volume capaz de manter a produção constante. O problema é que as microrregiões paranaenses não têm, de modo geral, um grupo de criadores de búfalos que dê conta da demanda, formando uma cadeia. A exceção diz respeito a produtores de Cerro Azul, na Região Metropolitana de Curitiba, que distribuem o leite a uma indústria localizada do outro lado da divisa com São Paulo, no Vale da Ribeira.
“Se você tem um laticínio, precisa de leite em volume. Então, o principal problema é de escala. É preciso ter regularidade no fornecimento, com escala. Se a cadeia conseguir se estruturar, não tenha dúvidas de que é um excelente negócio. O leite de búfala tem quase o dobro do teor de sólidos totais do bovino, o que se reflete no rendimento, 40% menos colesterol e vitamina A. É um derivado muito valorizado no mercado”, destaca o médico veterinário e presidente do Departamento Técnico da ABCB, Amauri Paske, que desde 1980 pesquisa os bubalinos.
O problema da escala também se reflete na produção de carne. Como não há uma cadeia estruturada, os produtores não conseguem manter a oferta regular. Os frigoríficos até compram búfalos para o abate, mas a carne é vendida como se fosse de bovinos.
“Não se tem oferta de animais para abate, o que dificulta a operação dos frigoríficos. Quando vai um lote ao frigorífico, eles vão para o supermercado como se fosse carne bovina, justamente por não ter regularidade na oferta. Os produtores nunca se organizaram para fornecer uma escala de abate com regularidade”, diz José Lino Martinez, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), que acompanha a cadeia produtiva no Estado.
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Vantagens
Apesar da dificuldade na estruturação da cadeia produtiva, os búfalos têm uma série de vantagens em relação ao gado bovino. No caso da Murrah, raça predominante no Paraná, os animais têm dupla aptidão: bom desempenho para carne e produção de leite. Outro ponto positivo é a melhor resposta à alimentação, ganhando peso precocemente: passam de 600 quilos em dois anos e meio. Por serem animais rústicos, os pecuaristas gastam menos com medicamentos e carrapaticidas, por exemplo. Além disso, os búfalos têm um índice reprodutivo superior.
“Em uma propriedade voltada à cria, recria e engorda de búfalos, a taxa média de prenhez é de 85%. No caso de bovinos, mesmo falando de Pecuária Moderna, a taxa de natalidade fica entre 65% a 70%. Por aí se tem uma ideia da capacidade reprodutiva dos búfalos”, diz Martinez.
Por tudo isso, o custo de produção dos bubalinos é menor, o que cria possibilidades animadoras para os produtores. “Por suas características fisiológicas, os búfalos têm uma série de vantagens. É um animal precoce com capacidade de transformar a alimentação em carne e em leite, com um ganho interessante. Faz-se o abate em idade jovem. Com isso, o pecuarista fica com o dinheiro na mão para poder reinvestir”, aponta Paske.
“Hoje, um reprodutor em fase de produção, com dois anos e meio, é vendido a R$ 10 mil. Uma novilha desmamada e registrada gira em torno de R$ 3 mil a R$ 4 mil. É um bom negócio”, reforça Chimin.
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Leis ambientais inibem produção no Paraná
O encolhimento do rebanho bubalino no Litoral do Paraná tem a ver com o acirramento de leis ambientais, que desestruturaram a cadeia produtiva na região. Por ser uma região de Mata Atlântica, os produtores passaram a ter dificuldades em implantar áreas de pastagens. Ao mesmo tempo, grandes empresas e organizações não-governamentais (ONGs) passaram a adquirir grandes áreas, de olho em cotas de crédito de carbono. Por outro lado, com as dificuldades, laticínios instalados na região encerraram suas operações.
“Chegamos a ter 72 fazendas com criação de búfalos [no Litoral]. Hoje, não deve ter dez. Tinha uma usina de leite e uma queijaria, que foram fechadas. Isso desanimou o pessoal, porque não tem para quem vender o leite. O desafio é reestruturar isso”, diz o pecuarista Luiz Chimin. “Os produtores do Litoral passaram a vender suas propriedades para esses grandes grupos. Quem comprou, tirou os búfalos, fez replantio. Do que era uma grande atividade no Litoral, restaram poucos produtores”, diz o presidente do Departamento Técnico da ABCB, Amauri Paske.
Além disso, a atividade tinha um evento anual significativo: uma feira de búfalos, realizada no Parque Castelo Branco, em Pinhais, na RMC, e que reunia pecuaristas dos principais Estados criadores. O parque foi fechado em 1998, sob argumento de que as feiras agropecuárias poderiam causar danos ambientais ao entorno.
“A feira era um grande mobilizador, um evento importante nacionalmente. Tinha leilões e exposições”, relembra Paske.
Adaptáveis, búfalos estão em todas as regiões do Paraná
Duas décadas atrás, os rebanhos de búfalos do Paraná se concentravam, principalmente, no Litoral do Estado, em municípios como Morretes, Guaraqueçaba e Paranaguá. Isso, em grande medida, estava associado a um mito: de que os bubalinos só se adaptariam a ambientes quentes e úmidos, caso da região litorânea. O IDR-PR, que mantinha uma fazenda experimental em Morretes, transferiu seu rebanho para Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), comprovando que os animais têm bom desempenho em condições diversas.
“Já se tinham animais sendo criados em regiões extremamente frias no Sudeste Asiático e até na base da Cordilheira do Himalaia. Nós sabíamos que não teríamos dificuldades em trazer os búfalos para a região de planalto”, diz José Lino Martinez, pesquisador do IDR-PR, entidade que desenvolve projetos de pesquisa voltados principalmente à produção orgânica de búfalos de corte e de leite na fazenda experimental.
Em seus levantamentos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera o Litoral do Paraná como parte da mesorregião Região Metropolitana de Curitiba. Assim, a RMC continua a deter a maior parte do rebanho estadual, com 18,4 mil búfalos. Mas ao analisar o número de cabeças por município, percebe-se o deslocamento da atividade, das áreas litorâneas para a divisa com São Paulo.
Hoje, Morretes tem 445 cabeças, Guaraqueçaba 1,6 mil e Paranaguá 2,8 mil, enquanto o rebanho de Cerro Azul passa de 11,5 mil animais, o de Adrianópolis é superior a 3,6 mil cabeças; e de Rio Branco do Sul, de 2,7 mil.
Olhando no mapa, também se percebe que os búfalos estão em todas as mesorregiões do Paraná. Em algumas, há rebanhos significativos, como no Centro Oriental, Norte Pioneiro e Norte Central. Neste contexto, alguns municípios começam a ampliar a ênfase nos bubalinos, como Castro e Ponta Grossa, nos Campos Gerais. “A produção de búfalos pode ser um ótimo negócio em regiões com uma cadeia leiteira instalada ou em locais de relevo acidentado, como a região de planalto do Paraná. Em locais com problema de relevo, o gado bovino não se desenvolve, mas os búfalos, por serem rústicos, vão bem”, afirma Amauri Paske, da ABCB.
Confira as principais raças de búfalos criadas no Paraná
Murrah
Originária da Índia, seu nome no idioma Hindu significa “espiralado” e deriva da formação de seus chifres encaracolados. Têm pelagem preta ou negro-azeviche. São animais maciços, robustos e de conformação profunda. Possuem extremidades curtas e ossos pesados.
É considerada excelente raça leiteira e com grande aptidão para carne. Os machos pesam 600 a 800 quilos e as fêmeas, de 500 a 600 quilos. A produção leiteira é de aproximadamente 1,6 mil litros em 305 dias.
Mediterrâneo
Descendentes de raças indianas, com cruzamentos na Europa, principalmente na Itália. Têm pelagem negra, cinza escuro e marrom escuro. Os chifres são medianos, voltados para trás, com as pontas formando uma meia-lua. O corpo é robusto em relação ao seu comprimento e as patas curtas e robustas. A traseira é curta e em geral é um animal compacto, musculoso e profundo.
São animais desenvolvidos para produção de leite, mas também com aptidão para corte. O peso de um macho varia entre 700 e 800 quilos e de uma fêmea, cerca de 600 quilos.
Por Sistema FAEP/SENAR-PR
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