Pecuaristas de Alta Floresta, no norte de Mato Grosso, começam a se mobilizar para montar uma cooperativa de carnes. A ideia é tentar reduzir a dependência que têm de compradores de bois na região, especialmente da JBS.
A situação hoje está de um jeito que, ou eles vendem o boi gordo a prazo para a processadora dos irmãos Joesley e Wesley Batista, por cerca de R$ 130 a arroba, assumindo eventuais riscos de não receber, ou vendem para médios e pequenos frigoríficos, que estão se aproveitando da crise provocada pelas denúncias contra a JBS para derrubar o preço da arroba.
“Não temos para onde correr”, queixa-se o pecuarista Rodrigo Agostini. Segundo ele, pesa ainda para a derrubada dos preços a proximidade da época de estiagem, que escasseia o pasto. “Com a chegada da seca, somos obrigados a tirar bois do pasto”, disse. Sabedores da sinuca em que se encontram os produtores, pequenos e médios frigoríficos estão oferecendo em torno de R$ 113,00 pela arroba do boi gordo para pagamento à vista.
Para amenizar a situação, os pecuaristas estão propondo a mudança do objeto de uma cooperativa de peixes que já existe em Alta Floresta para uma cooperativa de carnes. Quando foi montada há uns quatro anos, o peixe era um produto atrativo no município. Com a perda da atratividade do produto, a cooperativa ficou praticamente inativa.
Para o coordenador do Centro de Estudo de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (GVAgro), o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, o momento é propício para os pecuaristas de Alta Floresta montarem a cooperativa de carne. Ele, que esteve em Alta Floresta na última sexta-feira (2), disse aos pecuaristas que para se montar uma cooperativa é preciso necessidade, viabilidade econômica, liderança e espírito cooperativo. Rodrigues foi presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB ), por dois mandatos (1985/1991), e da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas (de 1992 a 1997).
Para Agostini, necessidade e viabilidade econômica existem. O que falta a eles é encontrar alguém que entenda de comprar boi e vender carne. Alguém que consiga colocar a carne em São Paulo, por exemplo, que é o maior mercado consumidor do País.
“No caso de Alta Floresta, eles já têm uma cooperativa. É só alterar o estatuto porque o processo mental já está instalado”, ressaltou o ex-ministro Rodrigues. Ele acrescentou que por não ser pecuarista nem morador da região, poderá ajudar os produtores com o convencimento da tese. O cooperativismo, que antes agregava pequenos produtores em busca de escala, explica o ex-ministro, passou a agregar médios e grandes produtores.
Segundo o coordenador da GVAgro, o cooperativismo passou muito à margem da pecuária de corte por conta do elevado número de abates de gado sem nota fiscal. “E em cooperativas não se pode ter caixa 2. Agora esse tema está menos complicado. Os grandes frigoríficos estão listados na bolsa e a fiscalização do governo sobre abates clandestinos se tornou maior”, disse Rodrigues.
Consultor do mercado agropecuário, o pecuarista Élio Micheloni Jr. disse que, se for em frente, a cooperativa de Alta Floresta será a primeira do Brasil. Para ele, a cooperativa se insere em um setor muito difícil. “Tanto que não há uma cooperativa no Brasil no sentido amplo de comprar e vender boi”, observou, ressaltando não ser contra cooperativas, mas que gostaria de ver uma pessoa fazer a cooperativa funcionar.
“Em Campo Mourão, no Paraná, segundo Micheloni Jr., existe uma cooperativa chamada Vaca Macia formada por um grupo de produtores que abate dentro de um padrão e a carne é distribuída só na região de Campo Mourão, Maringá. “Ali eles têm um de 1,5 milhão a 2 milhões de consumidores, mas é microrregião”, disse.
Fonte: Acrimat