Cerca de 200 profissionais da saúde participam, nesta quinta e sexta-feira (29 e 30.08), do 1º seminário sobre “Prevenção e Minimização de Acidentes de Trabalho com Exposição a Material Biológico”. O evento é realizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) em parceria com o Conselho Regional de Medicina (CRM-MT).
Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) mostram que, entre 2016 e agosto de 2018, cerca de 2.410 casos de acidentes envolvendo sangue e outros fluidos biológicos foram notificados em Mato Grosso. A maior parte dos acidentados eram enfermeiros.
Segundo o secretário adjunto de Atenção e Vigilância em Saúde da SES-MT, Juliano Melo, 80% dos profissionais acometidos por estes acidentes não tomam as medidas necessárias, como testagem e uso de medicação adequada, por falta de conhecimento.
“Esse seminário é para tentar alinhar os fluxos, dar conhecimento aos nossos profissionais do interior, de Cuiabá e Várzea Grande quanto à importância e necessidade de estabelecer um roteiro para atender seus próprios profissionais dentro das unidades. Existe uma série de protocolos que devem ser seguidos”, pontuou.
A coordenadora do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, Lauren Cristiane Leite, explica que os profissionais da saúde trabalham em ambientes insalubres e estão rotineiramente expostos aos agentes causadores de doenças infectocontagiosas; eles vivem um risco maior de adquirir Hepatite B (HBV), Hepatite C (HCV) e HIV do que a população em geral, uma vez que atuam na prestação de cuidados, de emergência, em salas cirúrgicas e laboratórios. Os profissionais de limpeza desses ambientes também estão expostos aos riscos, visto que recolhem os resíduos infectantes, dentre eles os perfurocortantes.
“Esse tipo de acidente ocupacional é considerado emergencial e de notificação compulsória, devendo ser registrado no Sinan, e o tratamento precisa ser iniciado logo após a ocorrência do fato para que possa ser eficaz”, destaca Lauren.
Contexto
No evento, os protocolos de atendimento e cuidado foram esclarecidos pela médica especialista em medicina do trabalho, Marina Azene. Ela apresentou a Norma Regulamentadora n° 32, que estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores da Saúde.
O vice-presidente do CRM, Pedro Luiz Reis Crotti, levou para o seminário dados de um estudo realizado por profissionais da saúde do Hospital Universitário Júlio Muller. Para ele, o resultado da pesquisa foi assustador. Dos 148 trabalhadores entrevistados, 46,6 % relatou já ter sofrido exposição a um material biológico potencialmente contaminado – destes, 60, 9% registraram a ocorrência.
“Esses acidentes causam doenças que podem levar ao afastamento do serviço. É preciso que eles tomem cuidados. Recentes pesquisas mostram que muitos profissionais da saúde, que tem conhecimento vasto do tema, continuam se machucando. Se profissionais bem preparados se machucam, imagine aqueles que não são bem preparados ou que não tem essa consciência”, argumentou Crotti.
Claudia Soares, 40 anos, é dentista e sabe como é o medo de alguma contaminação por material biológico. Há 20 anos, ao atender um paciente, ela se feriu com o bisturi. Na época, ela seguiu as orientações do local de trabalho e realizou todo procedimento de prevenção. “O paciente e eu fizemos todos os procedimentos. Tomamos coquetel por precaução e deu tudo certo”, conta Claudia, que se inscreveu no seminário a fim de atualizar as informações que tem a respeito do tema.
O seminário
O grupo volta a se encontrar nesta sexta-feira, das 8h e às 17h, com diversos temas, como notificação de acidente de trabalho envolvendo esses materiais biológicos; protocolo pós-exposição a acidente e relatos da rede estadual, municipal de Cuiabá e de Várzea Grande.