A economia está entrando em momento delicado e o agronegócio não será mais uma ilha, como tem sido. Leia também sobre o Grupo Amaggi e sobre o PIS/Confins nas rações.
Comemorar um PIB acima de 5% em 2021, quando a base é a queda de 4,1% em 2020, é quase nada. Mas se pegarmos que as expectativas de crescimento estão caindo semana a semana e, em paralelo, a inflação está deslanchando, o cenário fica pior, quando conjugado com a taxa de desemprego ainda alta.
E o agronegócio não escapará se a deterioração das previsões se consolidar, pela simples razão de que agora – e com reflexos negativos já para 2022 –, não é só a presença da pandemia fazendo o estrago. Mas há uma crise política-institucional que começa a entregar a conta.
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E não haverá exportações que, sozinhas, sustentem as cadeias produtivas, mesmo na soja, com seus mais de 70% de tudo que é produzido indo para o exterior e com ganhos em moeda forte. Além do que, crise em alta, espanta investidores para projetos em infraestrutura importantes, como, por exemplo, a Ferrogrão.
Mas, antes, vamos aos números fazendo uma média de que como o mercado está analisando, através do último Boletim Focus, e de avaliações de instituições financeiras: PIB vem arrefecendo e está estimado em mais 5% a 5,25%, de 2% em 2022; a inflação, que já ultrapassou o centro da meta, subirá para 7,27%.
Ainda que as exportações e investimentos diretos (US$ 60 bilhões para 2021) garantem qualquer derrapada na balança de pagamentos, parte dos problemas começaram a chegar.
O governo teve que aumentar a taxa de juros básica, a Selic, pela quarta vez consecutiva, agora em 5,25%, e não deve parar por aí. 7,25% é o que se prevê, o que vai correndo também a capacidade de retomada das empresas com o crédito ficando mais caro.
E que o controle da inflação, que é a principal desculpa para juros altos, não está surtindo efeito. E nem o dólar está caindo, como é o normal, uma vez que juros mais altos atraem mais recursos externos em renda fixa.
Se tenta disfarçar que a inflação não cede por causa das commodities, ou pela exportação de carnes, ou coisa parecida, mas não. E até deveria cair, já que não há pressão altista de demanda, com a fraqueza do consumo.
Não cai porque já há prevenção dos empresários em se proteger. E o dólar também não cede mais – chegou a R$ 5,40 há alguns dias – porque também acaba sendo o porto seguro contra riscos sistêmicos.
Amaggi não pensa em dividir o filé na bolsa
O mercado financeiro entra ano e sai ano na expectativa de ver o Grupo Amaggi abrindo capital na bolsa de valores. E não será tão já – ou talvez nunca.
Em conversa rápida há algum tempo com Pedro Valente, diretor-executivo da companhia do ex-ministro Blario Maggi, ele negou qualquer intenção nesse sentido.
A família não quer saber de dividir o filé mignon do maior grupo brasileiro do agronegócio no mercado acionário, na contramão do agronegócio, que bateu recordes este ano de novas empresas listadas na B3, entre produtoras rurais, da agroindústria, da logística e de revendas de insumos.
Investimento, para a potência em grãos e fibras, logística, trading e logo mais em biocombustível, só com recursos próprios.
Os mais de R$ 2,3 bilhões de investimentos, anunciados para este ano, é um exemplo. Virão dos mais de R$ 44 bilhões de faturamento que o grupo prevê em 2021.
Com tamanho apetite, o mercado estima que um IPO (Oferta Pública Inicial de Ações) teria poder de ser um dos recordes do mercado, como foi o da Raízen, outra gigante, só que do setor sucroenergético.
PIS/Cofins menor na ração depende do governo
Ariovaldo Zani, vice-presidente do Sindirações, ainda não se anima muito com a proposta de zerar ou diminuir o PIS/Cofins sobre as rações.
Não que não funcionaria para cortar parte dos custos que chegam na ponta final, quando o produtor vai comprar a comida para os bichos.
A questão é se e quando chegar ao plenário da Câmara. Por enquanto, passou em Comissão de Agricultura, mas o caminho ainda é longo.
E contará, como se supõe, com a resistência da bancada do governo.
Simples: o governo já abriu mão de imposto de importação de milho para facilitar a vida dos granjeiros e pecuaristas, diante da escassez do produto e dos preços para a hora da morte, mas será que abriria mão de mais receita?
Zani diz que o mercado ainda nem comemora essa andada do projeto na Câmara nos Deputados para não morrer na praia.
Por: Giovanni Lorenzon – AGRONEWS® é informação para quem produz