Cerca de 250 mil produtores brasileiros de carne estão em risco de serem excluídos da atividade, alertam os especialistas da Agroconsult.
“A intensificação tecnológica da pecuária melhora as performances econômica e ambiental, mas dos 1,7 milhão de pecuaristas brasileiros (cifra do Censo Agrícola de 2006 do IBGE), apenas cerca de 300 mil operam em níveis de tecnologia que viabilizam economicamente sua sobrevivência na atividade. E, desses, 250 mil – o pessoal da ‘série B’ – estão em risco de serem excluídos pela intensificação tecnológica dos mais eficientes”. A afirmação foi feita pelo consultor André Pessoa, da Agroconsult, no seminário “A Pecuária está preparada para o sucesso?”, promovido pelo Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) na manhã desta 3a feira (16) em São Paulo.
Pessoa baseia-se em levantamento feito pelo Rally da Pecuária e apresentado pelo consultor Maurício Nogueira, também da Agroconsult, que constatou que, na média nacional de produtividade em 2015, propriedades de pecuária de corte de até 200 hectares e que produzem até 5 arrobas/ha/ano dão prejuízo.
Para Pessoa, enquanto o grupo dos 50 mil pecuaristas mais tecnificados do país está melhorando seus indicadores ambientais, levado por motivação econômica e pressão da sociedade civil, a maioria está piorando de situação. Para agravar ainda mais as diferenças, esse grupo da ‘série A’ conta com as melhores taxas de financiamento, tanto do Plano ABC quanto dos bancos privados, enquanto o crédito agrícola é raro para a grande maioria.
“As metas de produtividade ambiental serão possibilitadas pelos produtores de ponta, mas serão obtidas às custas de um rápido processo de concentração com a consequente exclusão social dos produtores de baixa tecnologia”, afirmou Pessoa.
Para o consultor, recolocar os intermediários no “jogo” e pensar em que mensagens levar para eles deveria ser parte da estratégia do GTPS. Programas de capacitação e a ampliação do mercado de carne podem dar chance de um maior número de produtores ser incluída no processo de intensificação, acredita Pessoa.
Políticas públicas
Isso porque a maior parte dos pecuaristas, os cerca de 1,4 milhão que produzem até 5 arrobas/ha/ano, já podem ser considerados excluídos do mercado. A maioria desses tem renda inferior a um salário mínimo, acaba se desfazendo aos poucos dos bens para sobreviver, e adotando práticas que são o oposto do que preconiza o manual de boas práticas ambientais: uso exagerado do fogo para limpeza da área, exploração ilegal da fauna, como comércio de animais silvestres, na tentativa de manter a renda da família.
Para esses, deve haver políticas públicas de longo prazo, para evitar um outro problema que é a absorção dessa população pelas cidades. “Os pagamentos por serviços ambientais podem ser uma alternativa para a sobrevivência de parte desse grande grupo”, sugere ainda o consultor.
Com esse grupo, a abordagem, para tentar postergar sua saída do mercado até a geração seguinte, deve ser sobre manejo de pastos, mineralização, sanidade, reprodução, uso de touros, e definição entre venda de bezerro e produção de leite. “Falar de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta com quem mal faz pecuária não funciona”, provoca Pessoa.
Para ele a inclusão de um maior número de pecuaristas ao processo é boa para todos: o frigorífico, que vai poder contar com mais fornecedores, reduzindo seu risco, o meio ambiente e a população, que vai contar com maior oferta de carne.
Por Cristina Rappa – Cenário Agro